sábado, 4 de janeiro de 2014

[Estou sozinho, coloco a flor de cinza]




















Estou sozinho, coloco a flor de cinza
no corpo cheio de negrume amadurecido. Boca de irmã,
tu dizes uma palavra que sobrevive diante das janelas,
e sem ruído trepa, o que eu sonhei, por mim a cima.

Estou de pé na profusão das horas murchas
e poupo uma resina para um pássaro tardio:
ele traz o floco de neve nas penas vermelho-vivo;
com o grão de gelo no bico, atravessa o verão.

Paul Celan
trad. Yvette K. Centeno
Papoila e Memória
in Sete Rosas Mais Trade
1993, ed. Cotovia
pintura de Guy Denning

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