quarta-feira, 11 de julho de 2012

A infância! Esse musical falar. De morte.


Falas de amor.
Não conheço tal cadência,
nunca estive completa,
nunca teve forma
a forma servilíssima da forma.
E quem a nota? «Não te amo, quero-te
com o furor cego que o sangue me devora?»
Não conheço essa gota _devocional_
de um verso em rima.
Preparavas a mesa, o pão
de cego oiro _gramaticais acentos
de vertigem,
mas havia o som agudíssimo das trevas
e grave, com ternários, se medindo.
Repara!, no altar em que tocámos a súplica
pungentíssima do vinho.
Iam assim correndo, sem abrandar, Eysinga,
na musical execução do trecho,
cravos _nuances
de pianos e piedades,
cordas de desprezo: martelos de ignonímia.
Não conheço essa cova
que ao dares-me vida, honraste
a doce perdição da minha morte e só por isso,
ó meu lugar deserto de erros, míseras
generosidades _cordas, linhas,
compaixão sem paixão,
meu canto breve o corpo,
pois tê-lo enchido de desprezo nobre
foi infantil recuperá-lo enigma.

Eduarda Chiote
Branca Morte
1994, ed. &etc
desenho de Jorge Pinheiro


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