domingo, 1 de abril de 2012

Despedida



sentei-me ao sol
no alto das escadas de Alcântara
a ver os barcos
o rio
os carros que faziam barulho
lá em baixo


fiquei assim muito tempo
sentada ao sol
deixei o sol aquecer
um corpo que já tremia
por ter ficado sozinho


perplexo
sem resistência
por ter ficado sozinho
o corpo já se morria


todas as árvores são
aquelas mesmas árvores que eu vi?
e o céu
é sempre o mesmo céu?
e a terra em que me deito
é sempre a mesma terra
quer eu diga que vivo
ou que morri?

Yvette K. Centeno
Perto da Terra
1984, ed. Presença
imagem de Lourdes Castro

Sem comentários: