sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Necrophilia 12


Um grito vem de dentro de uma mata, do
círculo que se cria entre as heras
e os troncos. É o grito de um abutre a ser
engolido por outro, um desafio à
seiva derretida, à própria ausência de vida.
Não há tempo para esperar pela erosão
do vento, a não ser que o pó castanho dos
velhos dormitórios invada os campos de
batalha e cubra tudo de veneno. A
mulher aparece no caminho de urzes,
subitamente, como um pedaço de carvão
que cai de cima de um móvel, uma visão
demasiado brutal para um humano.

Jaime Rocha
Necrophilia
2010, ed. Relógio d'Água
desenho de Dante Gabriel Rossetti

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