sábado, 14 de janeiro de 2012

A Feiticeira Cotovia



Se a palavra poderosa
Ilumina o que é vedado
Há-de abrir-se a brusca rosa
Do que está vaticinado.


Onde não soube a cidade
Merecer a alma que tinha
Num espasmo de carvões há-de
Ter na cinza a sua sina.


Como a Virgem dos Destroços
Que é o luar das ruínas
Plantarei florestas de ossos
Onde eram Sete Colinas.


Vou joalhar no ourives
De um áureo tempo futuro
O poeta que em mim vive
Como um gato no escuro.


Pela peregrinação
Dos nervos de Fernão Pinto
Vou partir no galeão
Que falta do nosso instinto.


Vou pelos campos de linho
Do Poeta D. Dinis
Atirar a flor do pinho
Que onde cai é um país.


Vou por tardes de alecrim
Unir em saltos de corça
A abelha Bernardim
Com a rosa menina e moça.


 Eis-me nua e salamandra
Enchendo a noite de jóias
Trazendo como Cassandra
Um diadema de Tróias.


Nossa Senhora Astarteia
Com seios como damascos;
Pancada de lua cheia
Na fronte dos meus carrascos.


Natália Correia
Comunicação
1959, ed. Contraponto
desenho de Edward Burne-Jones

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