terça-feira, 9 de agosto de 2011

The Shrine de Jon Knautz

LUGAR COMUM

A produção de filmes de terror, imagino eu, deve ser de uma quantidade mais medonha do que são medonhos os conteúdos de muitos desses filmes. Nem tudo nos chega, claro, o que significa que, muitas vezes, perdemos bons filmas, outras temos a sorte de ficar ao largo do que de pior se faz dentro de um género particularmente sensível como é este.


"The Shrine" é do ano passado, e faz parte desses filmes que nem chegam a Portugal e que só podemos ver através de meios ilícitos. E é também um caso não de um exemplar do que de pior se faz dentro do género, mas um exemplar do que de mais vulgar se faz.
De facto, se há palavra que nos ocorre frequentemente ao longo deste filme é "vulagridade". Esta parece ser a regra, a começar pelo argumento e a terminar na realização.

Facilmente percebemos que o tema religioso ou místico será o assunto deste filme de Jon Knautz. Carmen (Cindy Sampson), uma jornalista, fica intrigada com o desaparecimento de um americano na cidade de Alvania, no interior da Polónia, localidade onde, descobre ela, já vários americanos haviam inexplicavelmente desaparecido, tendo as suas bagagens sido encontradas, também inexplicavelmente, em várias cidades do leste da Europa. Para combater o tédio das histórias que escreve para o jornal onde trabalha, Carmen decide ir a Alvania, sem o conhecimento do seu editor. Vai acompanhada do namorado, Marcus (Aaron Ashmore), fotógrafo, e da amiga Sarah (Meghan Heffern), também jornalista.
Chegando a Alvania, são mal recebidos pela população tipicamente fechada e desconfiada e agressiva, mas decidem ficar. O diário do rapaz desaparecido fala de um nevoeiro na montanha, que eles conseguem ver. Decidem ir investigar, sendo que Sarah e Carmen entram nessa espessa nuvem, onde avistam uma arrepiante estátua que lhes causa uma sensação de confusão e de delírio, que, aparentemente, passa. A questão é que, logo depois, começam a ser perseguidos pela população de Alvania, que consegue apanhar as duas raparigas, parecendo prontos a fazer, com elas, um estranho e macabro ritual, envolvendo um bibe branco e uma máscara de ferro, como eles já haviam visto antes, ao investigar a vila.
O argumento, assinado por Jon Knautz, por Brendan Moore e por Trevor Matthews (Este último é também um dos actores que interpretam os populares de Alvania.), não podia ser mais pródigo em encontrar lugares-comuns do género, que nos aludem, imediatamente, para filmes como "The Ring" (2002) ou, mais ainda, "The Blair Witch Project" (1999). Levando a questão da falta de originalidade ao extremo, quase podemos dizer que "The Shrine" é uma espécie de versão explícita do filme de Eduardo Sanchez e Daniel Myrick, com a mesmíssima ideia dos três investigadores perdidos na floresta sem que ninguém saiba que eles ali estão, e a darem por si envolvidos numa perseguição.
E se o argumento em si não oferece grandes novidades, Knautz também não é particularmente capaz de tornar este filme interessante, seguindo mais ou menos aquilo que vai sendo esperado. Quando a comunidade inicia o ritual com Sarah, a cena quase corre bem mas uma frase bastante inconveniente para o contexto dita por Carmen, e ainda por cima revelando, o que acontece várias vezes, que Cindy Sampson não é uma boa actriz, estraga tudo.
O final do filme não nos traz novidade nenhuma novidade, como seria de esperar, parecendo claramente baseado, de novo, na saga Blair Witch, desta vez em "The Book of Shadows, BW2" (2000) e a outros filmes do género. Também é bastante irritante que grande parte do filme seja falada em polaco (?), sem legendas, o que nos deixa, durante muito tempo, com a sensação de que quase estamos "a mais". E nem sequer vou entrar pela questão de que já não é verosímil que uma comunidade destas realmente exista num país como a Polónia, que não é propriamente sub-desenvolvido...

Salva-se uma boa caracterização dos habitantes de Alvania, e de uma capacidade de criar algum interesse perante a hierarquia religiosa que parece existir ali (Reforçada pelo facto do filme se chamar "The Shrine" -o santuário.), e ainda boas interpretações dos aldeões e de Aaron Ashmore, já que Sampson é o que já se disse e Meghan Heffern interpreta uma personagem tão apagada que quase não tem existência sem estar aos gritos.
A falta de originalidade continua a ser um problema para o cinema de terror, e não é com filmes destes, certamente, que essa tendência vai ser contrariada.



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