quarta-feira, 27 de julho de 2011

Frailty de Bill Paxton

ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS



Com uma longa carreira como actor, Bill Paxton estreou-se na realização em 2002, com este "Frailty", que em português se chama "Pela Mão do Senhor". É um filme difícil de definir. Nele se cruza o drama familiar com o horror, sendo a ligação conseguida através do tema, presente nalguns filmes deste último género, da obsessão religiosa.

Fenton Meiks (Matthew McConnaughey) vai uma noite procurar o detective Wesley Doyle (Powers Boothe), dizendo-lhe ter informações sobre o assassino que Doyle investiga, conhecido por Mão do Senhor. É assim que Meiks, revelando que o assassino é o seu irmão Adam (Levi Kreis), se lança a contar a história da sua infância. Depois da morte da mãe, Fenton e Adam passam a viver só com o pai (Bill Paxton), numa vida harmoniosa, até à noite em que o pai é visitado por um Anjo que o incumbe da missão de, representando a Mão do Senhor, destruir os demónios que estão espalhados pela Terra. E assim, o pai vai recebendo listas de pessoas que deve assassinar. Adam parece aceitar esta ideia muito facilmente, dizendo que, tal como o pai, consegue ver o demónio que se esconde por baixo da aparência humana das pessoas nas listas. Mas Fenton tem sérias dificuldades, o que lhe origina uma série de dissabores, que culminam com a sua clausura numa masmorra subterrânea que ele mesmo, sob as ordens do pai, escavara. E assim a infância violenta e delirante dos rapazes acabaria por, depois da morte do pai, "marcar" Adam para seguir com a missão de assassinar os demónios.

O que "Frailty" tem de interessante é que consegue notoriamente desviar-se dos clichés em que facilmente poderia ter caído, centrando a história no drama pessoal de Fenton e no seu conflito de valores. E é através desta violência exercida sobre a criança que Paxton consegue criar o verdadeiro horror do filme. Não há cenas particularmente gore ao longo da história, nem propriamente a pressão de ter que criar sustos contínuos e o resultado é que o horror se vai desenrolando a um nível psicológico que, como sabemos, resulta tanto ou mais que o físico.

A temática da obsessão religiosa ou do delírio a ela ligada é também muito bem abordada pelo argumentista Brent Hanley, recusando os caminhos mais evidentes, para, no final, sofrer uma resolução bastante surpreendente e que, para todos os efeitos, fecha as possibilidades abertas pelo filme, deixando de fora qualquer ambiguidade. Numa situação normal, esta escolha poderia não ser a melhor mas, na verdade, é essa mesma escolha que torna o final inesperado. Paxton revela-se um realizador competente, conseguindo alguns planos realmente marcantes, e bastante bem-sucedido na criação de um ambiente onde são notórias características como o isolamento, o secretismo, a dúvida e o medo, claro. Matt O'Leary e Jeremy Sumpter também estão surpreendentemente bem para a idade, nos papéis de Fenton e Adam enquanto crianças, contrariando a ideia de Alfred Hitchcock de que não se deve filmar com crianças. Outro exemplo de como isto nem sempre se confirma, seria "The Others" de Alejandro Amenabar.

Matthew McConnaughey também está surpreendente, no papel de um personagem torturado e por isso mesmo um tanto parado.



Ainda que este filme possa ser uma desilusão para quem espera algo de declaradamente violento e aterrorizante, na verdade, parece-me que, por se recusar precisamente a esses papéis acaba por resultar bastante melhor.


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