terça-feira, 3 de maio de 2011

Scream 4 de Wes Craven

ACTO FALHADO






Tive ontem a infelicidade de ir ver a quarta parte da saga "Scream", assinada, como todas as outras, por Wes Craven.


Convém relembrar que, em 1996, quando se achava que a fórmula do slasher movie estava já esgotada e mais não se fazia do que repetir as receitas dos grandes clássicos como "The Texas Chainsaw Massacre" de Tobe Hooper (1974), "Halloween" de John Carpenter (1978), "Friday the 13th" de Sean S. Cunningham (1980) e "A Nightmare on Elm Street" do próprio Wes Craven (1984); Craven traz-nos um filme que, ao mesmo tempo, renova e analisa esse mesmo esquema que orienta os filmes citados. Assumida que ficava a influência doentia do cinema na vida real, o filme resultava muitíssimo bem e não deixava de nos parecer uma boa maneira de contornar o bocejo em que o cinema de terror, em particular na sua variante slasher, se havia tornado.


Já nessa altura, "Scream" era-nos apresentado como uma trilogia e, portanto, prossegue em "Scream 2" em 1997 e "Scream 3" em 2000. Enquanto que a segunda parte ainda nos soava credível e uma continuação bastante inteligente das questões apresentadas no primeiro filme, a terceira parte era já de si bastante inusitada e seriamente mal-resolvida, ainda que, num ou outro aspecto, conseguisse continuar as mesmas problemáticas da fronteira entre o cinema e o real.






Oito anos depois de encerrada a trilogia, Wes Craven vem anunciar que, afinal, haverá um "Scream 4". Tendo em conta a qualidade duvidosa do terceiro capítulo e a contradição que uma terceira sequela representaria, seria de ficar alarmado em relação a ela; mas sempre se dava o benefício da dúvida por se entender que o elenco principal integraria mais este filme: Neve Campbell como Sidney Prescott, Cortney Cox como Gale Weathers e David Arquette como Dewey Riley.


No entanto, chegados a 2011, o filme estreia finalmente, e diga-se de passagem que o facto em si é uma infelicidade.


A película abre com várias cenas dos filmes "Stab", adaptações cinematográficas dos crimes de Woodsboro (Relembre-se que "Scream 3" se passava na produção de um desses filmes.), cada uma mais ridícula do que a outra, com imensos clichés. Quando, finalmente, temos o início de "Scream 4" propriamente dito, a coisa não corre melhor. Para cena passada "no real", Wes Craven escolhe uma sequência absolutamente dejá-vu, que repete um pouco a maneira como morria Tatum Riley (Rose McGowan) no primeiro filme.


Assim, enquanto Ghostface parece estar de volta, Sidney Prescott acaba de lançar "Out of Darkness", a sua autobiografia, e vem apresentá-la a Woodsboro, a sua terra natal, precisamente no aniversário do massacre de que ela fizera parte.


No lançamento do livro, encontra os seus velhos amigos, o casal Gale Weathers e Dewey Riley, que se encontram já a par do duplo homicídio que ocorrera.


Desta vez, no centro de tudo, encontra-se a prima de Sidney, Jill, que é aluna no colégio da cidade. São as suas amigas que começam a ser assassinadas, duma forma que parece repetir o primeiro massacre.


"Scream 4" passa grande parte do seu tempo a analisar as regras de filmes de terror, quer de sequelas quer de remakes; mas o que no primeiro filme dava conta de um estilo e de um objectivo, neste filme não deixa de parecer uma auto-justificação que nunca seria necessária se o filme fosse bom.


É de notar uma enorme falta de criatividade quer nas mortes dos personagens, quer nas resoluções que o próprio filme procura, limitando-se a repetir de uma forma aborrecida não só aquilo que já vimos nesta saga, como aquilo que temos visto numa série de outros filmes: aqui temos as adolescentes mamalhudas que não trancam as portas de casa, o parque de estacionamento, a maratona de filmes de terror, os nerds, a questão estúpida da virgindade, etc.


Mais ainda, se há algo de perturbante neste "Scream 4" são os diálogos: nunca antes se viu nada de tão amador, parecendo conversinhas entre crianças, com mais de ridículo do que de aterrador.


As personagens também nos aparecem como um pouco desfiguradas: a escrita de uma auto-biografia parece-nos, inicialmente, um tanto fora de sítio em Sidney Prescott, ainda que depois isso seja suavizado. Mas a relação entre Dewey e Gale surge-nos com uma frieza completamente deslocada, Dewey praticamente não tem importância ao longo do filme; sendo que Gale ainda vai sendo aquela que, na continuidade, mais se parece consigo mesma. No entanto, o ataque que fazem à antiga jornalista no Stabathon parece completamente despropositado e também bastante vão, no sentido em que se percebe logo à partida que é um ataque mal-sucedido.






O final também não se nos afigura particularmente surpreendente. Nota-se um certo esforço para que assim seja, e até poderia, em parte, ter sido. Mas depois a quantidade de justificações estúpidas e irrealistas estragam tudo, bem como a repetição descarada do desenlace de "Scream 2". A personagem que se revela ser o assassino também não chega a merecer qualquer tipo de sentimento da nossa parte, senão o de uma profunda irritação, não nos parecendo mais do que um excesso de mimo, como uma criança que faz uma birra.


Neve Campbell e Cortney Cox continuam perfeitamente capazes de incarnar os seus personagens. Já David Arquette parece completamente apagado ao longo do filme, o que faz com que, nas suas poucas e ridículas aparições, não nos pareça mais que um atrasado mental.


Hayden Penattiere e Nico Tortorella estão bem nos seus papéis, que aqui surgem pela primeira vez, bem como Rory Culkin e Eric Knudsen também, sendo que estes dois têm papéis ligeiramente mais exigentes. Quanto a Emma Roberts, que tem afinal um papel central, a única coisa que há a dizer é que é pura e simplesmente má, parecendo sempre que está a tentar exageradamente, perdendo qualquer credibilidade.


Deste filme, creio eu, não se salva quase nada, senão algumas boas interpretações. Wes Craven realiza este filme com uma falta de jeito que é o que mais surpreende.


Fui vê-lo em nome dos meus anos de iniciação ao cinema de terror, mas acabei por me rir como se estivesse a assistir a uma comédia. É raro ver-se um filme tão ridículo.


O nome a fixar é o que Kevin Williamson, o argumentista. É esse o nome do homem a abater.


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