segunda-feira, 9 de maio de 2011

Crises, Casamentos e outras coisas começadas por C

Costumo jantar num sitiozinho pequinino perto de casa, onde aproveito para ver os noticiários, já que, em casa, não vejo televisão.
Aqui há uns dias, encontrei algo de interessante: com as medidas impostas pela troika do FMI & Cia, estavam a fazer um especial sobre o ponto de vista dos portugueses residentes em Londres acerca do casamento real. Eu tenho pouco talento para este tipo de matérias e, até ter visto uma notícia no jornal, na véspera do casamento, pensava que o princípe que ia casar era o Harry. Evidentemente, nem segui o casamento pela TV, nem andei à procura de nada sobre o assunto, por várias razões, das quais a mais decisiva é o facto de não me importar.


Entretanto, como começava este texto, há uns dias, estou a tentar seguir o noticiário, quando, após algumas notícias sobre as peripécias do Governo e dos seus comparsas, começam a falar de novo sobre o casamento de Kate Middleton com o príncipe William.


Àparte o facto de eu achar interessante que haja quem se preocupe com isto ao mesmo tempo que se diz que as medidas do FMI serão piores do que o PEC4; pensei que era um verdadeiro achado quando um comentador qualquer dizia que, no fundo, o casamento de Kate e William era uma mensagem de esperança para toda a gente, porque afinal, o príncipe casou com uma plebeia. Esse foi o momento em que tive que me rir. Se é o caso, deviam condecorar Kate Middleton com uma medalha de mérito por fazer serviço público, uma medalha dourada que tivesse a seguinte inscrição: KEEPING THE DREAM ALIVE. Seria cómico, no mínimo.


Não sei ao certo, mas penso que li algures que, actualmente, há no mundo inteiro 31 monarquias. Como não tenho paciência para uma investigação mais detalhada, vamos partir do princípio que cada uma delas conta com dois príncipes solteiros: isso resulta em 62 potenciais casamentos com meninas plebeias. E, assim sendo, a mensagem de esperança de Kate aplica-se hipoteticamente a 62 pessoas espalhadas por 31 países do mundo. Meritório, não haja dúvidas. Se tudo correr bem, as tais meninas plebeias percebem isso, e o que acontece? Temo-las espalhadas pelo mundo a cantar "I´m beggin of you, please don´t take my man!".


Também não entendo a originalidade da ideia do príncipe casar com uma menina do povo, depois do caso de Letizia Ortiz. Um casamento com uma sem-abrigo seria mais criativo.


Acho ainda curioso o facto de Portugal ser uma República, portanto, não tendo monarquia, para onde vai essa "mensagem de esperança"? Mais ainda, mesmo que esse fosse o caso, em que é que sonhar ajuda quando estamos a lidar com a questão da crise, que, aparentemente, bem que pode passar para segundo plano ao lado do casamento real britânico?


Uma vez mais, temos a televisão a desprezar aquilo que realmente importa: consciencializar as pessoas acerca daquilo que se está a passar.


Tudo bem... temos uma crise a decorrer e preparamo-nos para viver mais espartilhados do que o habitual, mas felizmente há, não luar, mas casamento real. No Reino Unido.



1 comentário:

Graça Martins disse...

Eu acrescentaria que precisamente por o casamento estar em EXTINÇÃO,basta ler as estatístias e a quantidade de divórcios que ultrapassa o número de casamentos, há que ressuscitar ( beijo do príncipe para a SLEEPING BEAUTY) a ideia de príncipes, princesas e alimentar o sonho da rapariga simples sem sangue azul que pode encontrar um PRÍNCIPE ao virar da esquina. Quanto maior é a CRUEZA da vida/maior a necessidade de SONHO...O CONTRÁRIO NUNCA ACONTECE - Uma princesa encontra um jovem jardineiro...e são felizes para sempre e têm muitos rebentos...