segunda-feira, 25 de abril de 2011

Um poema

Para mim o teu corpo está sepultado
debaixo desta cidade. É a dor
que me faz sentir assim
por saber-te incapaz de amar.

O corpo deambula sem prender
a si o coração. Há o choro
submerso no olhar, a tristeza
que surpreende. Exilada de ti própria
hás-de acabar sob a medonha luz
e 0 rosto é já esse cadáver ou flor
apodrecida. Os lábios perfeitos
desenhados a pincel
são minúsculas fatias de carne
amortalhada.

Agora sou eu e não sou
enleada nas cinzas do passado,
no amor inútil que te dei.


Isabel de Sá

O Brilho da Lama

1999, ed. &etc

fotografia de Izima Kaoru

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