sexta-feira, 22 de abril de 2011

Um poema

Não trago nada.
Não sou nenhum oceano,
não venho para te afogar.

O sol esvai-se em vento.
A areia caminha sem praia
e cada grão se faz lua
na tua cara que me olha e me busca,
demasiado nua.

Eu sou o trilho por onde sulcas.
Eu não sou nada que não esperasses.
Tudo o que a tua mão te estende,
estava escrito na tua endoderme,
no calor das tuas pernas,
nos passos infatigáveis
dos teus segundos fátuos.

Não trago nada.
Sou só água.
Venho para te afogar.



Manuel Cintra

Não Sei Nunca Por Onde

2004, ed. Quasi

fotografia de Slava Mogutin

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