sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A Rave dos Pobres


Antes a floresta engastava na casa
agora surgem eliminando espécies
à toa na gente quase bêbeda
as garras cortam o impedir da marcha,
por causa dos incêndios replicam
os que dizem velar tanta harmonia
cedendo terra aos palmos
conforme rasam cunhas ou quantias.
A casa, as ruínas da casa foram resistindo
por vezes coito de ladrões,
à volta pastores ucranianos
ovelhas mutiladas seguem trôpegas
rotas de quem conhece pouco a região
imitam o tempo que lhes pertenceu
guiando tristes réplicas
à fidelidade inútil dos vencidos.
Aos pobres dão vestígios
a televisão falara de raves
e eles viam ricos, camisas marcadas
a música altíssima, pastilhas no sangue
escorrendo alegria por quanto era poro.
Não havia caminho senão o da terra
à frente da casa nos carros vetustos
jornais acabados perfaziam restos
garrafas partidas juncavam mortalhas
e apenas tocava um altifalante
a música exausta
zurzia ao acaso a mesma canção.
Despojos do tecto
o toldo riscado
deixara escapar culturas já gastas:
as praias da Foz há mais de cem anos
as divas nas rochas
colhiam o dedo os aristocratas
ainda mais cedo, Veneza no auge,
ídolos pintavam cabelos ao sol
as caras à sombra de certos lavrados
brocando na face as sedas exímias
simulam presença na tenda fendida.
Cortando à navalha aqueles destroços
a casca do tempo despiu a beleza
num bosque de perigos
flores mais caninas
prendiam nos estames
os pobres de rastos
perdidas na casa
sobravam nas teias
aranhas rendidas
a sonhos catárticos.

Fátima Maldonado
Vida Extenuada
2008, ed. &etc
fotografia de Slava Mogutin

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