segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Masters of Horror: Right to Die de Rob Schmidt (2x09)

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Na verdade, o cinema de terror tem-se tornado, na última década, uma espécie de entertenimento que se esgota a si mesmo, mais do que um tipo de cinema. O que acontece com o cinema de terror não é diferente do que acontece com a comédia. Na comédia, temos alguns realizadores que levam o género a sério, como é o caso de Woody Allen, e depois temos a maioria dos outros realizadores, que realiza comédias especificamente românticas, que servem para encher salas de cinema com pessoas que não estão minimamente sensibilizadas para a arte e se limitam a ver o filme, que não os faz pensar e nem os faz sentir. Tenho pena que tal tenha acontecido com um género que já nos deu grandes filmes, como é o caso do cinema de terror.



Este "Right to Die", de Rob Schmidt é, afinal, um belíssimo exemplo não só do vazio em que o cinema de terror tem caído, como é também um belíssimo exemplo do que acontece quando os realizadores não são criativos, que é a adopção de uma receita que se repete vezes e vezes sem conta.

Como é que um filme destes chega a "Masters of Horror", não sei. É verdade que nesta série já vimos filmes que vão do ridículo ao inaceitável, mas, nesses, pelo menos nota-se que o realizador tentou. Em "Right to Die" nem isso.

Rob Schmidt é o realizador de "Wrong Turn" (2003) que, colocando uma sensual Eliza Dushku a ser atacada por um bando de canibais, fez as delícias de milhões de adolescentes superficiais que gostam de terror, mas não percebem patavina de cinema.

"Right to Die" é a história de Cliff Addison (Martin Donovan), um dentista que, enquanto conversa com a mulher (Julia Anderson) durante uma viagem de carro, tem um acidente. Ele sai ileso, mas as mulher começa a arder, sendo levada para um hospital onde se conclui que a mulher passará o resto da vida em coma e que a totalidade do seu corpo foi consumida pelas chamas.

Indeciso sobre se desliga as máquinas, Cliff começa a ser visitado pelo fantasma da mulher, que o vai torturando e aumentando as suas dúvidas sobre se deve terminar a vida dela, quanto mais não seja porque, nos momentos entre o falecimento dela e a reanimação bem-sucedida que os médicos operam, ela se transforma num fantasma que chega até a matar o advogado e a amante de Cliff.

Se começássemos a fazer uma lista de todos os filmes que influenciam este, ela nunca terminaria. Passaríamos por "Ringu" (1998) de ideo Nakkata, por "13 Ghosts" (1960) de Rob Castle, entre muitíssimos outros. "Right to Die" limita-se a ser uma assemblage de tudo, com o condão particular de, por mais que a história desenvolva, parecer sempre nunca ter assunto.

De facto, estes são 52 minutos muito aborrecidos, cheios de abras-kadabras que já vimos em todos os realizadores sem qualidades que querem fazer filmes de terror. A história parece mudar de tonalidade sem motivo aparente, os factos desenrolam-se com uma certa inércia, a qualidade dos actores deixa muito a desejar e, como não há aqui nada que desperte o mínimo interesse no filme, temos então os dois recursos mais frequentes para resolver esta situação: cenas de sexo e de nudez, e cenas pretensamente gore. Estes são os dois refúgios de qualquer realizador sem talento especial que quer prender um mínimo da atenção do espectador.



Possivelmente, este texto é um tanto desagradável. Sou espectador de cinema de terror desde os 11 anos, e, ao longo da minha vida, tem sido dos géneros que mais tenho procurado, e tem sido também aquele que mais me parece ter caído numa vulgaridade causada pela pouca selecção e pela ideia de que é fácil suscitar medo no espectador. Discordo de tudo. Penso que muitos dos filmes mais originais já feitos foram filmes de terror, e penso que todo esse legado está a ser cada vez mais destruído, e não só por realizadores jovens.

Filmes como este "Right to Die" são o principal motivo por que muita gente já nem leva o cinema de terror a sério. E incluí-lo numa série de mestres não é errado. É pura e simplesmente criminoso.


2 comentários:

Mestre M. disse...

Fantastica a definição dos novos amantes de filmes de terror, 'pessoas que gostam de terror, mais não entendem nada de cinema'. È exatamente o que me vem a cabeça quando vejo pessoas achando o filme original do "Massacre da Serra Elétrica" de 1974 é um lixo por ser 'velho', ou com 'poucas mortes', enquanto acham a versão de 2007, sobre a origem da refilmagem de 2003 uma obra-de-arte, enfim alguem que gostou das mortes, mais não entende nada de cinema...

Supermassive Black-Hole disse...

Bem verdade. O filme do Tobe Hooper é todo ele uma obra de arte. Visualmente é forte e cru, há imagens que poderíamos ver numa galeria de arte, que nos emocionam e nos levam ao extremo, como o cinema de horror deveria levar. Mas não é para o público de hoje, que não tem cultura nem quer ver uma obra de arte, quer entretenimento. E, por alguma razão, ver pessoas a serem chacinadas, tornou-se entertenimento. Obrigado pelo comentário!