segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A Rede Social de David Fincher

HISTÓRIA E HISTÓRIAS


A especulação e a fofoquice, sinónimos em quase tudo, fazem parte deste mundo em que agora vivemos. Negá-lo é impossível. Se as redes sociais de internet são resultado disso ou não é já mais discutível.


Esta ideia serve, em vários aspectos, para falar de "A Rede Social", o mais recente filme de David Fincher. É necessário falar de especulação logo porque este filme é a adaptação de Aaron Sorkin ao livro "The Accidental Billionaires" de Ben Mezrich. O livro, que apresenta a história do Facebook, já foi inclusivamente refutado pelo próprio. Daí que o filme depende muito da especulação sobre os factos.
Trata-se da história de Mark Zucherberg (Jesse Eisenberg), um estudante de Harvard que, depois de terminar o seu namoro, zangado e um pouco bêbedo, cria um site, o FaceMash, em que disponibiliza uma série de fotografias de raparigas, dispostas em pares, para que os visitantes escolham a que gostam mais. Para fazer tal site, arromba uma série de sistemas informáticos fechados e aparentemente invioláveis; e o FaceMash é tão visitado que, em menos de uma hora, cria um black-out no sistema de Harvard. Dado o ultraje do site, be
m como a violação de várias regras, abrem um inquérito a Zuckerberg. E, através de uma notícia no jornal da faculdade, os gémeos Winkelvoss, Cameron e Tyler (Ambos interpretados por Armie Hammer.) e Divya Narendra (Max Minghella) concluem que Zuckerberg será a pessoa indicada para concretizar o projecto que têm em mão: a criação de um clube social on-line. Zuckerberg aceita o convite, principalmente porque é completamente obcecado com clubes sociais.
No entanto, enquanto se vai demonstrando relutante em contactar os gémeos para discutirem o desenvolvimento do projecto, começa a desenvolver ele mesmo um projecto de criação de uma rede social on-line; apenas com a ajuda de Eduardo Saverin (Andrew Garfield), que financia o projecto.
Inicialmente chamado "The Facebook", este site cedo se to
rna muitíssimo bem sucedido, e, quando os seus criadores visitam New York encontram-se com Sean Parker (Justin Timberlake), criador do famoso programa de download de música Napster, que aumenta as ambições de Mark, que não parece realmente ciente das possibilidades que a sua criação lhe abria. Mas Parker acaba por também dividir Mark e Eduardo, pelo que logo percebemos que a relação entre ambos acabará por resultar mal.


Assim sendo, o filme parte logo do princípio que o Facebook deu mau resultado: Mark Zuckerberg enfrenta simultaneamente dois processos legais: um levantado pelos gémeos Winkelvoss e outro por Eduardo Saverin. É um método interessante de contar a história em questão, porque nos mantém concentrados essencialmente nos factos e não simplesmente num desenlace, uma vez que já conhecemos o desenlace à partida. Para isto talvez interesse referir "Zodiac", o filme anterior de Fincher, que também questionava também a questão do desenlace através de um poderoso anti-climax.
"A Rede Social" tem algo de realmente invulgar, quando pensamos que se trata de um filme deste tipo. Fincher consegue desmarcar-se dos clichés que mais facilmente associaríamos a um filme que conta algo que já foi refutado e que, de qualquer forma, é altamente susceptível de gerar polémicas. Mas o filme consegue comportar-se enquanto enredo credível, e enquanto filme em si, ou seja, não dependente daquilo que conta. Consegue, inclusivamente, enredar-nos na personalidade que cria para Zuckerberg, que tem algo de zombie.
De facto, "A Rede Social" tem até algo de analítico, de olhar sobre a sociedade de hoje, em particular na sua relação de dependência com as modas aqui expressas através das redes sociais e da necessidade de pertença conseguida muitas vezes através dos meios mais idiotas.
Para aqueles que, com razão, pensariam se num filme com estes pressupostos não faltaria o ambiente de loucura e até non-sense que caracteriza o cinema de Fincher, a verdade é que o realizador encontrou várias maneiras de criar essa ambiência, maioritariamente através do humor, que oscila entre o negro e o non-sense assumido, e que sem dúvida acrescente um toque muitíssimo fincheriano numa trama tão terrivelmente mundana...


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