sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Masters of Horror: Dance of the Dead de Tobe Hooper (1x03)

FOR YOUR ENTERTAINMENT

Em 1969, "Eggshells" marcava o início da carreira de Tobe Hooper, mas o nome só se tornaria célebre em 1974, com o clássico "The Texas Chainsaw Massacre". A sequela, também da responsabilidade de Hooper, em 1986, não seria tão bem sucedida, e o segundo título mais facilmente associável ao realizador seria "Poltergeist", de 1982. Com (Pelo menos.) dois filmes de culto na bagagem, Tobe Hooper apresenta-se na primeira época de "Masters of Horror" com a média-metragem "Dance of the Dead", baseado numa novela de Richard Matheson.


Mas este não é já o sangrento filme de terror que encontrávamos em "The Texas Chainsaw Massacre", nem o filme de terror psicológico/paranormal de "Poltergeist". "Dace of the Dead" poderia muito bem ser um filme de ficção científica, se não fosse a sua história tão macabra.
Trata-se de um filme que nos coloca num futuro mais ou menos próximo, mas já depois do eclodir da Terceira Guerra Mundial, e do cessar-fogo. Mesmo com a guerra terminada, os efeitos da devastação são ainda visíveis e decisivos naquilo que sobrou do mundo.
Ainda que uma parte daquilo que conhecemos como normalidade subsista ainda, a maioria das regiões, um pouco por todo o mundo, estão povoadas essencialmente de seres humanos contaminados por uma espécie de violência irreprimível, onde homicídios, carnificinas e torturas são o pão-nosso-de-cada-dia. Muskeet é uma dessas zonas. Muskeet tem ainda a particularidade de incluir um pequeno bar, o Doom Room, cujo Mestre de Cerimónias (Robert Englund, mais conhecido por Fred Krueger.) anuncia um espectáculo que se deve à ciência.
Apesar de não termos, inicialmente, uma ideia concreta do conteúdo do espectáculo, é fácil entendermos que, o que quer que seja, é alimentado pelo sangue que Boxx (Ryan McDonald) e Jak (Jonathan Tucker) recolhem em assaltos de rua. Será um destes, Jak, que se apaixonará rapidamente por Peggy (Jessica Lowndes), a única sobrevivente de uma família normal, a par com a mãe. E aqui começa o típico rapaz-mau-conhece-rapariga-boa, rapariga-boa-é-arrastada-para-os-vícios-do-rapaz-mau. Jak leva-a a Muskeet, e finalmente assistimos ao espéctáculo tão louvado pelo Mestre de Cerimónias e pelo público do Doom Room.
Trata-se da "dança dos mortos", mais propriamente de uma espécie de mutantes, os L.U.P., mais conhecidos por Luppies: mortos que, quando injectados com sangue de vivos, são capazes de se contorcer com brutais espasmos em frente a uma audiência voraz. O espectáculo será também a ponte que ligará Peggy à verdade sobre a sua família.
E assim temos um particularmente decadente filme de zombies.


Se podemos dizer que Tobe Hooper já antes tinha criado uma visão algo satírica do american way of life, nomeadamente com a família de Leatherface, aqui Hooper vai bastante mais longe: apesar de nos colocar num cenário diverso daquele que conhecemos, é interessante verificar como, afinal, as questões que são colocadas estão tudo menos distanciadas da realidade actual: estamos ante um público sedento de sangue e violência, completamente indiferente ao sofrimento de quem lhes dá esse entretenimento, num mundo em que tudo é susceptível de ser traficado, mesmo os mortos: logo que isso dê lucro. E até o fuel que move os Luppies pode ser entendido como uma metáfora: ele é colhido à força dos poucos cidadãos que não foram ainda afectados pela loucura da maioria. Ainda, os espectáculos com os Luppies não são totalmente ilegais: eles haviam já sido permitidos pelo governo, uma vez que podiam ser considerados exposições de ciência e tecnologia.
No fundo, não há tanto de surreal neste filme como à primeira vista possa parecer. Este é um mundo em que o dinheiro é fácil, porque o público está disposto a qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo, para se ver retirado do aborrecimento do quotidiano, o que é ainda uma forma de neurose ou de loucura. E se para isso é necessário sacrificar pessoas que nada têm a ver com isso, o governo, que supostamente representa e protege não é a entidade que se vai opor. Na verdade, qual é que é a grande diferença em relação àquilo que vivemos neste 2010?


Sem comentários: