sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Um Poema



Esse rosto na sombra, esse olhar na memória,
o tempo do silêncio, os braços da esperança,
uma rosa indefesa - e esse vento inimigo.

Ficou somente a luz do constante deserto,
e o sobrenatural reino obscuro do vento,
com seu povo indistinto a carpir noutro idioma.

Ideias de saudade em tal paisagem morrem.
Que arroio pode haver, de contínuos espelhos,
a repetir o que é deixado? Por devota,

solidária ternura e aceitação da angústia?
- Ah, deixarei meu nome entre as antigas mortes.
Só nessas mortes pode estar meu nome escrito.

Nome: pequena lágrima atenta.



Cecília Meireles
Solombra
1963
pintura de Álvaro Lapa

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