quinta-feira, 6 de maio de 2010

O Fim da Noite



A lava deixou sulcos no céu baixo
entre as nuvens do dia perseguido
como ramos da árvore
do céu batido
pelo vento visível

Os espelhos espalharam este brilho
de cinza
Sobre a zona do
ventre alastra ainda
o labirinto líquido
numa
mancha de ramos e raízes
E as lanças da luz como serpentes
erectas passam entre
as ramificações e as radículas
imprecisas
e fias do dia cor da
noite perseguidora
perseguida

Uma rede de vermes vai roendo
a barriga ferida A noite morre
com um espasmo de esperma e abre a extinta
boca de espuma e esperma e dela solta
retido e consumido um pénis hirto


Gastão Cruz
Órgão de Luzes
ed. &etc, 1981
imagem de Henri Toulouse Lautrec

1 comentário:

Graça Martins disse...

Não ẽ a "Viagem ao Fim da Noite" do Céline, mas é outro tipo de viagem. Uma viagem dos sentidos ao RUBRO.
Outro poeta muito forte e bom, dos nossos.
Bons poemas nesta postagem.