terça-feira, 6 de abril de 2010

Goldfrapp: Head First

RECORDAR E (SOBRE)VIVER

Quando em 2000 os Goldfrapp se lançaram com "Felt Mountain", por mais que o álbum roçasse a genialidade, ninguém podia prever a influência que o duo britânico ia exercer sobre tantas bandas. A sonoridade que no primeiro álbum é melódica e sinfónica, sem dispensar todo o tipo de maquinarias ao lado da voz suave de Allison Goldfrapp no segundo disco deu lugar ao quase puramente electrónico: "Black Cherry" era uma inesperadíssima reviravolta na música dos Goldfrapp, com pouquíssimo em comum com o priemiro álbum. Depois, "Supernature" haveria de começar um processo de assimilação entre as duas vertentes, que será mais completo em "Seventh Tree", que teve direito a passagem pelo Sudoeste de 2008.
E onde "Supernature" se inclinava mais para "Black Cherry", "Seventh Tree" veio pender mais para o lado de "Felt Mountain".
De qualquer forma, "Supernature" será sem dúvida um dos discos mais influentes dos últimos anos: é fácil perceber a contaminação quer em bandas que o souberam inserir numa sonoridade diferente e pessoal, caso dos Editors em "In This Light and On This Evening" ou de "The Resistance" dos Muse, quer em bandas com um som mais verde, caso dos La Roux.




Mesmo assim, o percurso dos Goldfrapp não cai na repetição. E se "Seventh Tree" parecia um momento de descanso e de retorno ao lado intimista de "Felt Mountain", o quinto álbum de originais, lançado há poucas semanas com o vídeo de "The Rocket" vem virar tudo ao contrário. Outra vez.
Podemos colar este disco, de entre os quatro anteriores, a "Black Cherry", mas parece-me também interessante verificar as raízes de "Head First" em relação à música que não a dos Goldfrapp.
E se "Black Cherry" vinha reverter completamente todos os sentidos da electro-pop, "Head First" parece ir buscar influências muito mais recuadas, nomeadamente na disco dos anos 80. Mas não se fica pelo revivalismo, que foi a morte de muitas experiências já feitas no passado. As beats e alguns tiques facilmente associáveis aos eighties são adaptados à personalidade musical dos Goldfrapp. Assim sendo, não é raro neste disco sermos remetidos para algumas canções do passado, principalmente do segundo e terceiro álbuns.
Mas em relação a esses trabalhos, "Head First" representa um passo em frente para um som inovado, ou, se se quiser, melhorado. É a prova derradeira de que os Goldfrapp não passam muito tempo a produzir o mesmo tipo de som.
Assim, em "Head First" tanto temos momentos de maior euforia, como "Alive" ou "Rocket", como momentos em que o electrónico e o dançável se tornam estranhamente íntimos, como "Dreaming" ou "Hunt", uma das melhores canções deste disco.




O lado acústico volta a desaparecer quase totalmente, surgindo apenas de relance em algumas faixas, como o piano em "Head First" (a canção).
A voz de Allison Goldfrapp mostra-se como sempre muito competente para acompanhar as diferentes ambiências que o disco, no seu todo, atravessa. E tanto a encontramos perto daquele frenesim que ouvimos em tempos em "Ooh La La" como a encontramos no tom melancólico dos idos "Lovely Head" ou "Deer Stop", e, uma vez mais, movimenta-se muito bem em qualquer uma delas, indo do sussurro (Brutal em "Shiny and Warm".) ao grito num ápice.
Em relação aos discos anteriores, também me parece que, contrariamente ao que pode parecer numa primeira audição, "Head First" representa também uma sonoridade mais densa, e menos radio friendly do que os anteriores. "Rocket" é, nesse sentido, uma canção de excepção: não sendo a melhor do disco, é certamente uma boa escolha para single de avanço, por ser a canção mais leve ou de mais fácil audição, não sendo, no entanto, a melhor faixa.
Nesse aspecto, a composição mais complexa e que causa maior estranheza será talvez "Hunt", canção marcada por vocalizações bizarras e vários momentos de pausa.
Se voltaremos a ter algum hit com a dimensão de "Ooh La La", ainda não se sabe. Mas certamente temos um álbum muito à altura dos Goldfrapp.



o vídeo de "Rocket"


"Hunt"

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