sexta-feira, 24 de julho de 2009

terça-feira, 21 de julho de 2009

tori amos no seu melhor

curtain call

A Magnólia/ Magnolia´s Dead


A exaltação do mínimo,
e o magnífico relâmpago
do acontecimento mestre
restituem-me a forma
o meu esplendor

Um diminuto berço me recolhe
onde a palavra se elide
na matéria - na metáfora -
necessária, e leve, a cada um
onde se ecoa e resvala.

A magnólia,
o som que se desenvolve nela
quando pronunciada,
é um exaltado aroma
perdido na tempestade,
um mínimo ente magnífico
desfolhando relâmpagos
sobre mim.


Luiza Neto Jorge, "O Seu a Seu Tempo"
ulisseia, 1966


imagem:
Graça Martins, Magnolia´s Dead
2005

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Irene Lisboa: Um Dia e Outro Dia

Não foi há tanto tempo assim que me cruzei com os livros de Irene Lisboa, e ainda não os li em considerável quantidade, mas o que já li é-me suficiente para estranhar a relutância do público em lê-la. Poderia dizer que o nosso público é ignorante e reaccionário, mas se calhar é melhor não dizer, podem levar-me a mal.
A verdade é que Irene Lisboa, cujo primeiro livro (Excluindo um pequeno livrinho de contos infantis em 1926.) vem a lume em 1937, sob o pseudónimo de João Falco. Na altura, autores como José Régio, Alberto de Serpa ou Vitorino Nemésio estavam também a publicar as suas primeiras obras. A poesia de Florbela Espanca era já apreciada, mas, a meu ver, num "grupo" que lhe era inferior, e que era, como é hábito sexista, a poesia feminina. O exemplo de Virgínia Vitorino é citado por José Gomes Ferreira a propósito deste assunto, e é certo que haverá mais a dizer sobre esta senhora do que aparenta, a verdade é que ainda se insere num certo tipo de poesia escrita por mulheres que faz louvor aos homens, e da qual só à custa de uma considerável depressão (Digo eu.) Florbela Espanca escapou através de um sofrimento e de uma revolta memoráveis.
No entanto, Irene Lisboa parece-me estar acima de tudo isto. Aqui, a utilização de um pseudónimo masculino actua em dois sentidos: se por um lado ele mascara um nome feminino que poderia ser acusado de subversão, por outro também distancia o autor desse universo de louvor do macho, ainda que o livro leve como subtítulo "Diário de Uma Mulher" e esteja escrito numa primeira pessoa feminina.
Se a partir de Natália Correia, do Poesia 61 com Luiza Neto Jorge, Fiama e Maria Teresa Horta, e nos anos 80 Isabel de Sá, já vimos em definitivo que uma mulher é capaz de uma poesia equiparável (Ou superante?) à dos homens, nos anos 30, mais do que agora, a escrito dos homens é que era a sério.

A injustiça do caso Irene Lisboa parece-me muito óbvia quando se lê os livros pelos livros, e não pelo sexo dos autores, porque, em muitos aspectos, a escrita de Irene Lisboa não é só mais moderna do que a das mulheres do seu tempo, é-o também em relação à de muitos dos homens. Sem retirar crédito a Régio ou a Sena ou a Casais Monteiro, a verdade é que Irene Lisboa soube ver e escrever as coisas de uma forma muito menos dependente do tempo e do contexto em que se insere. A utilização do verso livre e da métrica irregular é só um exemplo.
"Um Dia e Outro Dia" é o primeiro de dois livros de poesia que Irene publicaria em vida, com excepção das folhas volantes e das revistas da Seara Nova.
No entanto, uma análise aos livros seguintes em prosa, como seja a famosa "Solidão" mostram-nos que, mais do que dividir a escrita em poesia e prosa, Irene Lisboa teve a preocupação de narrar a vida, aquilo que é humano e comum a todos nós. Daí que os seus livros, mais de setenta anos depois, não estejam ainda ultrapassados ou sequer datados (A não ser por algumas questões de pontuação ou de algumas palavras entretanto caídas em desuso.).
O livro divide-se em quatro partes, uma primeira sem título em que o primeiro poema se chama "Um dia" e os restantes "Outro dia"; a segunda, "Dias soltos", com algumas indicações de mês; "Mais Dias Soltos", primeiro poema "Outono. Um Dia" e os restantes "Outro dia"; e a quarta "Últimas, Rápidas Notas", primeiro poema "Mais Um dia" e os restantes "Outro Dia".
Parecendo este levantemento de títulos um tanto obsoleto, a verdade é que ele é importante, uma vez que o livro é escrito com o propósito de ser um diário, noção que inova através da utilização do verso e através da não-indicação dos dias, dando apenas uma ou outra nota temporal muito vaga. Isto, não só reforça a ideia de um "documento humano", expressão que muitas vezes vemos associada à obra de Irene Lisboa, como também vai de encontro ao poema de abertura, que termina dizendo
"Como poderá um diário
deixar de ser monótono,
corrente
e vulgar?"

pondo em causa a importância da indicação de um dia como elemento de definição de uma coisa. A verdade é que indicação de um dia, mês e ano não acrescentaria nada aos poemas, porque o que lemos são fragmentos da vida da autora, quer presentes, quer de memória, e aos quais o dia seria uma nota praticamente inútil.
Além disto, ao ler os poemas, percebemos que parte do espírito e da escrita de Irene é uma ironia subtil mas assumida. E portanto, apesar de nos apresentar um livro de poesia/diário com setenta poemas, começa logo por dizer que o formato diário será "monótono, corrente e vulgar".
Claro que, nesses setenta poemas, que a autora define como pensamentos sem forma e sem arte, percebemos que ela atinge aquilo que muitos "poetas" cheios de forma e arte não atinge, que é a capacidade de transmitir uma coisa tão humana como a pele, uma imagem pura da vida, sem artifícios, quer de representação quer de linguagem.
Aquilo que Irene Lisboa nos deixa em "Um Dia e Outro Dia" é, parece-me, uma prequela para os seus livros seguintes, tanto "Outono Havias de Vir" (1937) de poesia, como "Solidão" (1939), prosa. Mas, para todos os efeitos, o que nos lega, é um relato daquilo que faz parte de cada um de nós, daí me parecer apropriada a expressão "documento humano", que implica uma personalidade sem pretensões e incorruptível, como a obra de Irene nos mostra que ela foi. O preço pela originalidade e pela invulgaridade, pagou-o a autora durante a sua vida, e parece-me que continua a pagá-lo a sua obra.

Se até aos anos 90 havia a desculpa de que a obra de Irene Lisboa estava esgotada e inacessível, a verdade é que a Presença lançou uma colecção com os livros que Irene publicou (Ficam, por enquanto, de fora os dispersos.)
E acho muito mau que essas edições não estejam já esgotadas.

domingo, 19 de julho de 2009

calatrava do oriente


Santiago Calatrava, arquitecto e engenheiro civil espanhol, tem uma obra arquitectónica difícil de definitir, fruto de uma multiplicidade considerável de formas e organizações de espaço, mas onde se encontra, como característica contínua a assumpção dos elementos estruturais, utilizando o esqueleto dos complexos como elemento integrante da imagem do mesmo. Como as experiências de Buckmister Fuller e Norman Foster já demonstraram, através destas é possível criar formas orgânicas e uma grande riqueza volumétrica. A par destas vantagens, que Calatrava aproveita invariavelmente, há que ter em conta que, através da escolha dos materiais, como sejam o vidro, o acrílico e o betão, a evidência da estrutura permite a criação dos mais variados jogos de luz/sombra. Ainda, o estudo das propriedades dos materiais permitiu ao arquitecto criar edificações grandiosas, quase megalómanas, sem ter que se apoiar numa excessiva robustez nos elementos de sustentação. Estes conhecimentos deram a Calatrava a possibilidade de projectar para a arquitectura vários elementos naturais (Como esqueletos de animais ou fósseis.), o que leva muitos críticos e analistas a atribuir-lhe o rótulo de surrealista.




sábado, 18 de julho de 2009

poema inaugural de Miriam Reyes


Mi padre enfermo de sueños
en el asfalto incandescente de cien mil mediodías caminados
bajo el sol en vertical
perdió sus pies
y apoyado en sus rodillas sigue buscando
el camino de vuelta a casa.
Mi padre sueña,
rendido por el cansancio,
que vuelve a su tierra y planta sus piernas y le crecen pies jóvenes
y la savia de su tierra negra le alivia el dolor de las arrugas
y resucita sus cabellos muertos.
Luego despierta en un piso alquilado a la ciudad de los huracanes de la miseria
y blasfema y maldice y no tiene amigos.
Escondido en la noche
papá llora por las certezas que lo defraudaron.
Del otro lado de su piel
mamá llora por mamá
mamá llora por su casa que ya no habita
y por paz y reposo y risa.
Papá y mamá lloran
cada uno a espaldas del otro en la cama
en el más crudo estruendoso hermoso silencio
que modula en frecuencias infrahumanas
sonidos que se articulan como palabras:
“si aquí no estan mis sueños
cómo puedo dormir aquí”.
Y que sólo yo escucho
con la cabeza enterrada en la almohada.
Concebida de la nostalgia
nací con lágrimas en el sexo con tierra en los ojos con sangre en la cabeza.
No soy lo que soñaron
como tampoco lo son sus vidas.


Miriam Reyes,
Espejo Negro, 2001
dvd ediciones
imagem; ARTUR DO CRUZEIRO SEIXAS

sexta-feira, 17 de julho de 2009

poética do eremita



No deserto estão secas
as pedras que no mar se molhavam
a semelhança confunde o eremita que solitário demais
passou o tempo entregando-se à solitária memória
aqui a pedra seca
para o eremita não perdeu
a qualidade húmida de poder
ter estado ao pé do mar.

Fiama Hasse Pais Brandão

Três Livros: Eremitério

(na Obra Breve)

fotografia: Alasdair McLellan

quarta-feira, 15 de julho de 2009

hoje apetece isto...

far away from the memories of the people who care if I live or die...

MUSE, Starlight

Nova, Nova, Nova, Nova!


Não era a minha alma que eu queria ter.
Esta alma já feita, com seu toque de sofrimento
e de resignação, sem pureza nem afoiteza.
Queria ter uma alma nova.
Decidida, capaz de tudo ousar.
Nuna esta que tanto conheço, compassiva,
torturada, de trazer por casa.
A alma que eu queria e devia ter...
Era uma alma asselvajada, impoluta, nova, nova,
nova, nova!


Irene Lisboa
"Outono Havias de Vir"
1937, edições Seara Nova.


imagem: fotografia interior de um pormenor de
SPLITTING de Gordon Matta-Clark

terça-feira, 14 de julho de 2009

Placebo: Battle For The Sun no Optimus Alive ´09

Significativamente, na música de abertura de "Battle For The Sun", Brian Molko diz I need a change of skin. De facto, as restantes componentes do sexto álbum de originais dos Placebo confirmam esta "mudança de pele", para a qual contribuem muitas coisas: a entrada do novo baterista, Steve Forrest, que é de longe mais agressivo e "pesado" do que Steven Hewitt; uma aparente vontade de tornar a música mais polida, negra e depressiva, e ao mesmo tempo mais elaborada e melódica; e por fim as letras de Brian Molko que, continuando no seu estilo depressivo-sexual-agressivo se nos apresentam agora melhores do que nunca.

Assim, ainda que á primeira vista a sonoridade do rock pesado seja a única escolha de "Battle For The Sun", uma audição atenta demonstra que isto é apenas uma primeira impressão. As músicas melódicas que fomos encontrando ao longo dos álbuns anteriores, como sejam "Follow The Cops Back Home", "Soulmates Never Die", "Blue American", "My Sweet Prince" ou "I Know", continuam a existir, mas elaboradas de outra forma, o que só prova que a melodia não tem que ser suave. "Come Undone" ou "Devil In The Details" são bons exemplos disto.

De certa maneira, a componente electrónica que encontrámos essencialmente entre "Black Market Music" e "Meds" foi agora praticamente eliminada, dando lugar às secções de cordas e sopros que muito raramente os Placebo usavam no passado. "Battle For The Sun", "The Never Ending Why" ou "Julien" marcam o ponto.

Talvez um tanto histérico, mas parece-me que este é o melhor álbum dos Placebo. Claro que, ao passar os olhos pela crítica de música, distraídamente como sempre faço, já encontrei alguns textos onde se critica a falta de momentos calmos a lembrar "Centrefolds" ou "In The Cold Light Of Morning". Parece-me que isto não é muito exacto, em dois sentidos: primeiro porque, como já disse, me parece que um momento de "beleza" melódica não tem que ser mais silencioso, pode sê-lo usando uma sonoridade suja e agressiva; e segundo porque me parece que uma banda tem que, a certa altura, fazer opções, e a dos Placebo foi exactamente esta, e não há porque não aprovar, logo que seja boa.

O concerto no Optimus Alive '09 comprova tudo isto. Tanto nas músicas mais recentes, como nas antigas, definitivamente interpretadas com uma nova roupagem, que as traz de encontro ao novo álbum.

Brian Molko, Stefan Olsdal e Steve Forrest fazem-se acompanhar de mais três músicos, o que, além da guitarras adicionais, assegura a presença dos teclados e do violino. Na bateria lê-se "WE COME IN PEACE".

O concerto chama o público como nenhum outro. Se, de acordo com António Lobo Antunes, "a melhor é a única boa", o concerto dos Placebo foi o bom. Aliás, chateia-me que seja a segunda vez que os Placebo tocam no mesm palco dos Prodigy e estes últimos são cabeça de cartaz, quando, bem vistas as coisas, por mais que a música dos Prodigy até fosse boa em disco (Do que tenho sérias dúvidas.), a verdade é que em palco perde toda a força, parecendo que estão durante quase duas horas a tocar a mesma música e não muito bem.

Concrectamente sobre "Battle For The Sun", a prova de que estamos perante um muito bom álbum é a seguinte: do alinhamento faziam parte "Kitty Litter", "My Ahstray Heart", "Battle For The Sun", "For What It´s Worth", "Come Undone" e "The Never-Ending Why". No entanto, se fosse "Julien" ou "Happy You´re Gone" ou "Kings Of Medicine" também estaria bem, o concerto não ficaria a perder.

Sobre as restantes, só há que dizer que nunca canções como "The Bitter End", "Special K", "Taste In Men" ou "Every Me Every You" soaram assim.

They came in peace, let them come back...






1. kitty litter






2. ashtray heart






3. battle for the sun

domingo, 5 de julho de 2009

for what it´s worth, got no lover...

single de avanço para "Battle For The Sun" dos meus grandes

a conversa

_Ok... you´re six ... it´s time we have a little mother-daughter talk:
So... Your father´s family is trash. Any question?


de DONAS DE CASA DESESPERADAS
(Gabrielle Solis)