terça-feira, 1 de julho de 2008

as palavras




Na manhã em que me levantei para começar este livro tossi. Algo estava a sair-me da garganta, a estrangular-me. Rasguei o cordão que o retinha e arranquei-o. Voltei para a cama e disse: Acabo de cuspir o coração.
Existe um instrumento chamado quena que é feito de ossos humanos. Tem origem num culto que um índio dedicou à sua amante. Quando ela morreu ele fez dos seus ossos uma flauta. A quena tem um som mais penetrante, mais persistente que a flauta vulgar.
Aqueles que escrevem sabem o processo. Pensei nisto enquanto cuspia o coração. Só que eu não estou à espera da morte do meu amor.








Anaïs Nin
"A Casa do Incesto"- introdução



Imagem: Isabel de Sá

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