sábado, 24 de maio de 2008

A Eternidade e o Desejo de Inês Pedrosa

SAUDADES DO BRASIL EM PORTUGAL

De Inês Pedrosa já nos chegaram romances tão bons e tão humanos como “Nas Tuas Mãos” ou “Fazes-me Falta”. E este último demarca-se não só pela humanidade e sobriedade do próprio texto, como pela aclamação por parte do público, tendo Marcelo Rebelo de Sousa afirmado que este seria “inquestionavelmente o melhor romance de Inês Pedrosa”. Tudo isto é um problema, porque o próximo romance parece já estar condenado ao fracasso.
E é “A Eternidade e o Desejo” um fracasso? Não. Na realidade, este é um texto mais rápido que qualquer um dos outros (Em particular do que “A Instrução dos Amantes” em que uma tendência barroca acaba por assombrar a história.), sem, por isso, perder qualidade.

A origem está em 2005 na viagem do percurso do Padre António Vieira pelo Brasil, na qual, a convite do Centro Nacional de Cultura, Inês Pedrosa participou. Foi esta viagem (Que está presente no romance.) que inspirou a escritora para, finalmente, nos dar o seu novo romance, seis anos depois do primeiro.
Clara, uma professora universitária portuguesa cega, viaja ao Brasil na companhia do seu amigo Sebastião, o Brasil onde, além de ter ficado cega, perdeu o grande amor da sua vida. Precisamente um professor universitário brasileiro especialista em António Vieira. E foi quando foi ter com ele ao Brasil que foi baleada e perdeu a visão.
No seu retorno, junta-se á viagem do percurso do Padre António Vieira, cujas palavras a guiam pela descoberta do sentido da vida. É ao longo deste percurso que a sua relação com Sebastião, que está apaixonado por ela se vai destruindo lentamente, e que Clara percebe que é no Brasil, mais propriamente na Bahia que tem que ficar.


É aqui que o romance mais peca: de repente, é como se Portugal fosse só defeitos e o Brasil fosse a terra da virtude. É um fanatismo um pouco incompreensível: eu reconheço que Portugal é de facto um país deplorável em muitos aspectos, mas não é como se o Brasil fosse tão perfeito assim: afinal, se os portugueses não sabem rir, os brasileiros não sabem chorar, que também faz falta.
Em tudo o resto, nunca se consegue duvidar da veracidade destes personagens, dos seus sentimentos e das suas reacções.
É uma leitura absolutamente recomendável, aparte da capa que resulta mesmo muito mal (Parece um livro técnico.).

Veredicto: 19/20

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