terça-feira, 13 de maio de 2008

Ornamento e Essência: A Bipolaridade na Música dos The Gift

Nunca, ao falar de música em Portugal se poderia não falar dos The Gift, ou não estivéssemos a falar de uma das bandas mais originais e coesas na paisagem musical deste nosso país.
Este é um percurso difícil, mas triunfante. Quando, em 1994, os Gift fazem uma edição de autor do seu EP “Digital Atmosphere”, ninguém podia prever que efectivamente a banda fosse capaz de continuar. Isto porque, e ainda que este EP seja marcado por uma certa hesitação, nota-se já que é um projecto arrojado e sem precedentes no que toca a composição e principalmente a arranjos. O que em 1998 irá tornar-se muito óbvio com o álbum “Vinyl”, é que nos The Gift existem duas vertentes contínuas: a essência e o ornamento. É justo dizer que estamos perante música alternativa, mas é igualmente justo dizer que estamos perante uma tendência mais barroca desta. Trazendo na bagagem as influências de Bjork, Portishead, Massive Attack ou Divine Comedy, o resultado era absolutamente impressionante.
Tudo nos The Gift é calculado, o maximalismo e a obsessão pelo detalhe a isso obrigam: a quantidade infinita de sons que se sobrepõem e complementam, as composições intensas, a fortíssima voz de Sónia Tavares e as letras vagas e no entanto impactantes (Principalmente as da vocalista.).
E se “Vinyl”, primeiro álbum com edição comercial, continha canções que pareciam o máximo que uma banda pode dar, como sejam “Time”, “Truth”, “My Lovely Mirror” ou “Weekend”, “Film”, o álbum de 2001, viria a provar que ainda há mais e melhor, e assim nos surgiam mais pérolas como “Front Of”, “Me Myself and I”, “Water Skin”, “So Free”, “Actress” ou “Next Town”.
“AM-FM”, álbum de longa produção, fazia a divisão exacta entre o íntimo e o eufórico, nos dois lados correspondentes a dois CD que compunham a caixa. E este parece ser um ponto de fim de ciclo, além de ser mais um passo evolutivo no percurso da banda de Alcobaça. E esta ideia de fim de ciclo é confirmada por “Fácil de Entender”, o registo ao vivo at last. Mais do que a gravação de um concerto, “Fácil de Entender” é um espectáculo pormenorizado e uma explosão estética visual a fazer justiça á música. São apresentados alguns dos momentos mais significantes de “AM-FM”, como “Cube”, “11:33”, “Pure”, “Red Light” ou “Wallpaper”, além de outros mais antigos, agora em versões muito diferentes.
Depois de “Fácil de Entender”, há que esperar pelo que aí vem. Pelo caminho, surge “In Repeat”, música da colectânea “Lisboa”, de várias bandas. Uma música de sonoridade electrónica, noctívaga e etérea, para ouvir in repeat.

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