domingo, 11 de maio de 2008

A Naifa: Uma Inocente Inclinação Para o Mal

ESTA POP QUE TEM FADO

Mesmo que os A Naifa fossem uma banda péssima, havia sempre que lhes dar crédito por uma coisa: por arriscarem muito mais do que o comum das bandas portuguesas.
Isto de juntar a pop com o fado num país de puristas, onde alguns fadistas mais inovadores como Mísia ou Cristina Branco já são rotuladas de não-fadistas, é algo que não lembraria a alguém que goste de jogar pelo seguro.
No entanto, há que dizer que a esta junção pouco segura, há que acrescentar que foi bem-sucedida: os Naifa são uma das melhores bandas portuguesas da actualidade.
Depois da estreia com “Canções Subterrâneas”, chega “Três Minutos Antes da Maré Encher”, um álbum que pontuava em relação ao primeiro por uma ainda maior profundidade, e por um muito maior á-vontade nas movimentações pouco ortodoxas que os definem.


Em 2008, é a vez de “Uma Inocente Inclinação Para o Mal”.
O álbum abre com "Um Feitio de Rainha", um tema mais folclórico que fadista, até na letra que, apesar de não se poupar a análises sociais do nosso pequeno país, percorre também um caminho mais popular. Isto não é pejorativo. É um apontamento. A verdade é que "Feitio de Rainha" é uma muito boa canção. Ainda que não seja tão boa como "Filha de Duas Mães", que se segue, num ritmo frenético que quase podíamos aplidar de futurista; ou como "Na Página Seguinte", canção tristíssima um pouco a fazer lembrar a letra de "Fé", do álbum anterior, mas desta vez com um texto mais fatalista.


"Esta Depressão que me Anima" é possivelmente a melhor performace de Mitó, a vocalista, uma vez que consegue uma profundidade tão forte como delicada. Isto para não referir a letra, como todas escrita por Maria Rodrigues Teixeira, que prima pela ironia e pela subtileza.
Outros temas de referência sao "Ferro de Engomar", impressionante, com um toque quase de flamenco. "Dona de Muitas Casas" é também interessante pela junção da letra com a música.
A lentidão de "O Ar Cansado dos Meus Vestidos" marca os mintuos mais depressivos do álbum, ao contrário de "Pequenos Romances", que se destaca pela tonalidade expedita com que Mitó diz que se descartou do amor.
Resultado final: "Uma Inocente Inclinação Para o Mal" não desilude definitivamente. Aliás, é um álbum que parece ir mais a fundo no que toca ás raízes (Os temas mais folclóricos como o referido "Feitio de Rainha" ou "Nas Tuas Mãos Vazias".), o que só mostra que o "nada temer" é uma boa filosofia.
Esta nova série de canções termina com "Apanhada a Roubar", um pouco a lembrar uma espécie de fado malandro, e também um tema mais minimalista e pouco exaltado, "uma ligeira dor de cabeça", e um final excelente.
Um destaque para a direcção de arte, belíssima, em especial a capa, a fazer lembrar trabalhos inciais ("A bispalhada".) da artista Isabel de Sá.


Veredicto: 18/20

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