terça-feira, 30 de dezembro de 2008

13



um corpo é certo: o teu......... sem dúvida
prudentemente decorado na esteira da saliva
como em tempos se refazia de memória o mapa da europa
seus rios e vales feericas montanhas planícies
nomes de lugares como contos de fadas sítios de batalhas
os ilustres heróis os mares o oceano flanqueando-a
mil vezes assoladas outras tantas ou mais
do caos recuperada........ lúbrico jogo de vontades e poderes
-o teu corpo assim mesmo apaixonadamente
decorado para que nunca o perca.





WANDA RAMOS
"Poe-Mas-Com-Sentidos"
1986- ulmeiro (esgotado)




imagem:
GRAÇA MARTINS
"O Segredo"

e já agora

imagens idiotas à parte, "Wade In The Water" de Eva Cassidy. Diamonds are forever, canções como esta também.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

também isto me soa belíssimo



"In The Springtime Of His Voodoo", ou simplesmente Voodoo, pertence ao álbum Boys For Pele, terceiro do percurso da pianista Tori Amos. Aqui em versão acústica, num MTV Unplugged.

se há música que faz chorar de felicidade

é este "Sexto Andar" dos Clã.

this is the life

Antes que se torne na nova coqueluche da rádio e da imprensa, eu digo que Amy MacDonald tem qualidades.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Delta de Vénus de Anais Nin

Depois do pequeno trauma que tive ao ler "A Casa do Incesto", decidi finalmente aventurar-me a ler outro livro de Anais Nin. Neste caso, os contos eróticos de "Delta de Vénus".


Aproveito para realçar a falta de interesse das editoras por reeditar este tipo de livros. A edição que econtrei era dos anos 80, da Bertrand, traduzido nem mais nem menos do que por Luiza Neto Jorge, e com uma belíssima capa de Gustav Klimt.
Aparte disto, sobre o livro propriamente dito, digo que gostei. Não foi, de todo, uma leitura enfadonha. Mas, para que a génese do livro seja entendida, em muito ajuda a introdução, com algumas passagens retiradas do famoso diário da autora, onde explica que estes contos teriam sido, originalmente, escritos para um coleccionador anónimo, que lhos encomendara, bem como a Henry Miller. Trabalho para sobrevivência, portanto. Mas o resultado é bom.
Se, numa certa e polémica crítica a "Casa do Incesto", me queixei que havia um excesso de poesia, em "Delta de Vénus", a poesia surge na sua conta, peso e medida. Portanto, a leitura não é dificultada por um abuso repetitivo de metáforas. Não são, como pretendia o coleccionador que os financiou, relatos mecânicos e pornográficos. Aliás, pornografia é um adjectivo que não pode ser empregue aqui. Ainda que, nas palavras de Anaïs, que subscrevo, a linguagem do sexo ainda não foi inventada, aqui, a perspectiva é claramente feminina, como era aliás, objectivo da autora. Há uma sensibilidade, não há actos cometidos pelo próprio acto do prazer, tudo tem um sentido e um sentimento.


Aparte disso, nota-se apenas uma certa "timidez" em avançar para um registo mais extenso, ou seja, o romance, uma vez que personagens como Elena, Pierre ou Bijou surgem em vários contos, estando, portanto, todos ligados.
Realço o primeiro conto, "O Aventureiro Hungaro", como o menos conseguido. O ambiente e o tipo de situação são, sem dúvida, dignos de uma cultura de salão do rococó onde, para celebrar a vida, todos querem ter sífilis. É o conto mais "leviano", ainda que consiga alguns picos de interesse na medida em que a perversão do dito aventureiro atravessa situações realmente originais.
No resto dos contos, a tonalidade é outra, mais facilmente associável à figura e à escrita de Anaïs Nin. Saliento "Elena" ou "O Basco" como os contos onde a originalidade está mais nivelada com a qualidade. Serão os melhores.
E este é definitivamente um livro a guardar e recordar.

sábado, 27 de dezembro de 2008

aqueles vozeirões

Shirley Bassey: "Diamonds Are Forever".

É possível que esta canção se tenha tornado mais popular entre nós, portugueses, por ter sido alvo de um atentado terrorista pela parte de josé castelo branco. Mas na voz de dame Shirley Bassey, vale a pena. Aqui ao vivo, claro.

Mary J Blige: One

E aqui, Bono fica do tamanho da pontinha de uma agulha, que é como quem diz que não canta uma pontíssima, ao lado de Mary J. Ao vivo nos Grammy de 2006.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

1º poema de Luiza Neto Jorge+ o meu desenho dele



para aumentar, basta clicar sobre as imagens.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

2008: para o bem e para o mal

o bem

José Saramago, António Lobo Antunes, Lídia Jorge, Herberto Helder, José Luís Peixoto e Rui Lage, Eduarda Chiote, António Ramos Rosa e Maria Velho da Costa trouxeram-nos novidades livrescas: "A Viagem do Elefante", "O Arquipélago da Insónia", "Praça de Londres", "A Faca Não Corta o Fogo", "Gaveta de Papéis", "Corvo", "Não é Preciso Gritar", "Horizonte a Ocidente" e "Myra".

o concerto de Bjork no festival do Sudoeste

os Portishead trazem a lume o seu mais recente álbum, "Third", 11 anos depois do anterior


as sessões de poesia da Fundação Eugénio de Andrade

a actuação dos Muse no Rock In Rio

a estreia de "O Programa do Aleixo" na Sic Radical

a eleição de Barack Obama

o movimento Não Apaguem a Memória, a promover uma série de sessões sobre a história da ditadura e do 25 de Abril

Fernando Meirelles adapta "Ensaio Sobre a Cegueira" de Saramago ao grande ecrã, com Julianne Moore no papel principal

a exposição "The Love Box" de Isabel de Sá

prosseguem as "Quintas de Leituras" no Teatro do Campo Alegre

deixou de se falar do caso Madaleine McCann

os concerto de Massive Attack Editors e de Lou Rhodes a passarem pelo Porto

a exposição de Peter Zumthor no LX Factory de Lisboa

a quarta época de "Donas de Casa Desesperadas" vem finalmente a lume

o 100º aniversário de Manoel de Oliveira

Peter Greenaway traz-nos "A Ronda da Noite" sobre Rembrandt

Mariza, Nico Muhly, A Naifa, Muse, Goldfrapp e Annie Lennox lançam novos álbuns "Terra", "Mothertongue", "Uma Inocente Inclinação Para o Mal", "HAARP", "Seventh Tree" e "Songs Of Mass Destruction"

e eu saí do Ensino Secundário e passei para o Superior...



o mal

a vergonha da edição de "A Faca Não Corta o Fogo" de Herberto Helder pela Assírio e Alvim

a mudança de Ministro da Cultura não trouxe quaisquer consequências relevantes

o anúncio de José Saramago de que "A Viagem do Elefante" será o seu último livro

"True Blood", a nova série de Allan Ball, que fez furor com "Sete Palmos de Terra" não estreia na televisão nacional

termos ouvido Sarah Pallin

termos ouvido John McCain

termos ouvido e sido governados por José Sócrates

o nosso governo, cada vez mais ditatorial

o novo estatuto do aluno

o novo estatuto da carreira docente

Britney Spears ainda (Finge que) canta

foi necessário Manoel de Oliveira fazer 100 anos para que lhe dessem este destaque

o novo álbum de Madonna, "Hard Candy" uma absoluta desilusão

a actuação decadente de Amy Winehouse no Rock In Rio

o exame de Desenho a ser muito mais complicado que nos anos anteriores, quando com o resto dos exames aconteceu o oposto

a vergonha do Rivoli quando no Fantasporto, La Feria se recusou a retirar as terríveis decorações de "Música no Coração" do espaço

uma coisa chamada FamaShow

outra coisa chamada Rebelde Way
outra coisa chamada Morangos com Açúcar
uma coisa chamada Just Girls
uma coisa chamada Angélico que dos DZRT passa a cantar a solo

os novos álbuns de Sia, Kate Walsh e Vanessa Carlton a não serem publicados nos escaparates do nosso jardim à beira mar plantado

entra em prática a nova lei da proibição do tabaco. Raros cafés se tornam "salas de chuto"





Agora façamos contas

o poema




Confesso: às vezes somente
a voz da tua pele apela
às verdades dormentes
ou opressas debaixo
da máquina do pensamento,
mas eu não te deixo.



Confesso: qualquer vestido
modesto de elementar singeleza
sublinhará a face sem adereços
da tua infanta, a silhueta
escondida será uma adivinha,
minha aura velada de leveza.



Confesso: nesta hora ébria
de contigo regressar à perdida
infância que resguarda
a inocência da desconfiança...
faz-me uma festa, fala comigo:
saudades eu tenho, de chorar





Eva Ruivo


"A Rosa de Jericó"
1990- frenesi- esgotado
fotografia de Paulo Nozolino

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O Programa do Busto

Depois de Bruno Aleixo perder uma aposta, é a vez do Busto apresentar o programa...

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

3 desenhos
.
.
Ao ler a poesia de Luiza Neto Jorge, que só agora descubro, surgem-me algumas imagens, como estas que aqui ficam. Não sou nenhum Jorge Martins (Artista que trabalhou constantemente com LNJ) mas estas são as minhas visões de alguns poemas que não deixo por pura preguiça.

1. o amor é um lugar estranho



2. a noite vertebrada



3. "quando o sonho for granito"
.
.
.

citação de Luiza Neto Jorge do livro "A Noite Vertebrada", 1960

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

finalmente

férias

momento musical do ano

Neste vídeo, Bruno Aleixo e o Busto, os meus dois heróis mais recentes, interpretam "Torero". Imperdível...

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

o programa do Aleixo 5

o programa começa com o Busto a perder a carreira. depois, é o costume...

domingo, 7 de dezembro de 2008

estou curioso por ver

"Gummo" de Harmony Korine.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

long live the winter



Snow can wait, I forgot my mittens
Wipe my nose, get my new boots on
I get a little warm in my heart when I think of winter
I put my hand in my fathers glove

I run off where the drifts get deeper
Sleeping beauty trips me with a frown
I hear a voice you must learn to stand up for yourself
Cause I cant always be around



He says when you gonna make up your mind
When you gonna love you as much as I do
When you gonna make up your mind
Cause things are gonna change so fast
All the white horses are still in bed
I tell you that Ill always want you near
You say that things change my dear



Boys get discovered as winter melts
Flowers competing for the sun
Years go by and Im here still waiting
Withering where some snowman was

Mirror mirror wheres the crystal palace
But I only can see myself
Skating around the truth who I am
But I know, dad, the ice is getting thin



Hair is grey and the fires are burning
So many dreams on the shelf
You say I wanted you to be proud of me
I always wanted that myself

When you gonna make up your mind
When you gonna love you as much as I do
When you gonna make up your mind
Cause things are gona change so fast
All the white horses have gone ahead
I tell you that Ill always want you near
You say that things change my dear



Never change



All the white horses



Tori Amos, Winter
de Little Earthquakes




imagem: Caspar David Friedrich
"Monge junto ao Mar"

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

programa do aleixo 4

é mais uma sessão de humor austero na casa de Bruno Aleixo. Desta vez, o Busto teve uma consulta, e o primo mouco veio substitui-lo.

sábado, 29 de novembro de 2008

sarah mclachlan: Black

digam o que disserem, esta canção será sempre fantástica

terça-feira, 25 de novembro de 2008

O Programa do Aleixo 3

eis o terceiro capítulo. Mulheres nigerianas, amigos da PJ, coisas do género...

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O Programa do Aleixo 2

Depois das pirâmides cúbicas, cuidado com a melancia e o vinho. José Luís Peixoto subscreve.

domingo, 16 de novembro de 2008

para uma definição de cidade

"As cidades são sistemas vivos, feitos, transformados e experimentados pelos seres humanos. As formas e funções urbanas são produzidas e dirigidas pela interacção de espaço e sociedade, isto é, a relação histórica entre a consciência humana, a matéria, a energia e a informação."
Vítor Martins Ferreira, Movimentos Sociais Urbanos e Intervenção Política
"A cidade é um lugar de desigualdades, pois, sendo um produto social, nela se reflecte a estrutura da sociedade. É então um lugar onde se manifestam contradições sociais: um espaço de conflito, um espaço de lutas em torno de interesses e valores sociais heterogénios."
Maria Rodrigues, Pelo Direito à Cidade

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O Programa do Aleixo


Finalmente, um programa que me faz rir. Mas rir mesmo. Obrigado Graça...

antónio ramos rosa

capa de "animal olhar" desenhada pelo autor

domingo, 9 de novembro de 2008

sábado, 8 de novembro de 2008

um desenho de

Luiza Neto Jorge
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.
de um caderno da autora cedido por Gastão Cruz à Fundação Luís Miguel Nava e à revista Relâmpago

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

isto soará sempre bem

"Humpty Dumpty" de Aimee Mann, resgatado de "Lost In Space"

sábado, 1 de novembro de 2008

Peter Zumthor: só até amanhã



no LX FACTORY



O arquitecto Peter Zumthor, nascido na Suíça, já trabalhou em vários projectos de reconstrucções, reformulações urbanas, recebendo assim uma noção ampla das características de materiais muito diversificados, o que, a par com a influência da Arquitectura Modernista e a incorporação de formas retiradas de elementos naturais (Pedras, árvores,etc.), o fez chegar ao tipo de construcções que podem agora ser observadas na exposição "Peter Zumthor: Edifícios e Projectos 1986-2007" em maquetes, projectos ou apresentações de vídeo.





Não em português, mas em castelhano, pela editora Gustavo Gili, pode-se ainda ler o ensaio "Pensar a Arquitectura", publicado em 2005.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

a música do cinema

perodoem-me esta falta de assuntos diferentes, mas o YouTube é a resposta rápida para um blogger que acaba de se tornar estudante universitário e mesmo assim não desiste dessa sua "casa".
Isto são cenas de cinema, musical ou não, mas em que a música tem uma importância crucial.





Aqui, Queen Latifah protagoniza uma das cenas altas de "Chicago" de Rob Marshall. Óscar de melhor filme, por cenas como estas, e por outras. "When You´re Good To Mama" é a minha escolha pessoal.

Além de representar, a belíssima Nicole Kidman também canta. "Sparkling Diamonds" (Mistura de "Diamonds Are a Girls Best Friend" e "Material Girl" de Madonna.) de Moulin Rouge de Baz Luhrmann é um belo exemplo disso.


Não é de Penelope Cruz a voz, mas sim de Estrella Morente. No entanto, esta cena de "Volver" de Pedro Almodovar está perfeita. Com Carmen Maura incluida, claro.




Os This Mortal Coil, fundadores do dream pop, foram sempre peritos em ambientes desviados da realidade. Podemos definir assim David Lynch, e explicar a junção em "Lost Highway".

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

videos que me fazem rir 5: christina aguilera "dirrty"

Não há voz que a salve. Sim, já percebemos que está por ali muita gente muito nua, mas a Christina já tinha idade para perceber que já ninguém aprecia esta performance da miniatura no meio dos matulões.

A esquecer.

videos que me fazem rir 4: Britney "Baby One More Time"

Quem não se lembra de momentos tão quotidianos como este? A beleza deste vídeo é essa mesmo: todos nós saímos das salas de aula a começamos a dançar no meio do corredor...

O ar desolado da então (Supostamente.) virgem Britney antes da cena no campo de basket também merece referência.

PS: Este é dedicado à minha amiga Filipa Teixeira a.k.a. Lipa

videos que me fazem rir 3: Kelis "Bossy"


Eu acho que este nem precisa de comentários... o mau gosto conhece aqui a plenitude.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

videos que me fazem rir 2: Madonna "Like a Virgin"

Como é que aquela gôndola não virou com Madonna a dançar e espernear daquela maneira??

E que passagem é aquela de um leão para um homem mascarado de leão? Enfim, os anos 80 têm destas. entre outras coisas. Podem-me dizer o que quiserem, mas este vídeo não é um ponto alto na carreira da rainha da pop...

ps: como não podia deixar de ser, este é para a Catarina Moura

terça-feira, 21 de outubro de 2008

videos que me fazem rir 1: J.Lo "Que Hiciste?"

Depois de um desgosto de amor, Jennifer vai explodir um carro para o deserto. Por mais que seja extremista e dramático, é compreensível. No entanto, não percebo porquê parar numa estação de serviço para pintar o cabelo de preto... É um luto? Uma alma gótica revelar-se na menina bonita da pop?

E já que ia para o deserto explodir um carro, e que depois teria que voltar a pé, não teria sido uma boa ideia ter comprado uma garrafa de água na estação de serviço?

ps: Claro que este é para a Sofia

domingo, 19 de outubro de 2008

+ um amigo meu

que se aventura pelos blogs.
Visitem o folhetim "Fado Malandro" em

sábado, 18 de outubro de 2008

herberto

Só gostava de dizer que acho que o que se passou com a edição de "A Faca Não Corta o Fogo" de Herberto Hélder foi uma verdadeira vergonha.
Fazer uma tiragem de 3000 exemplares e dizer que o autor não autoriza reedições só faz com que os alfarrabistas comprem os livros todos para daqui a uns meses venderem pelo dobro ou triplo do preço original.
Depois, não sei como é que de repente o público de poesia de Portugal passa de 500 leitores para 2500 (Assumindo que 500 exemplares ficaram fora de mercado, e não sei se foram tantos.).
Se a Assírio e Alvim e o autor tiverem o mínimo de consideração por quem quer ler o livro (E não ganhar dinheiro com ele.), farão uma segunda edição.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

penteados aparte

este é um post dedicado ao blog Eu, Ela e a Escrita. Depois da foto de Avedon, este é um vídeo de um solo de Rudolf Nureyev no famoso Lago dos Cisnes.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

também gosto muito deste rapaz

que responde pelo nome de John Mayer




"Your Body Is a Wonderland" (ao vivo)






"Daughters" (ao vivo)



"Waiting On The World To Change" (Live)

e, os videoclips respectivos: 1/2/3

domingo, 5 de outubro de 2008

FINALMENTE

donas de casa desesperadas

4ª época a começar hoje, na Sic, à uma da manhã.

sábado, 4 de outubro de 2008

eu gosto disto

e aparentemente a Super Bock também

e eu gosto deste spot

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

o excerto

não leia versos
os versos podem ser perigosos como o fogo
leia romances policiais
Adília Lopes,
O POETA DE PONDICHÉRY
1986- frenesi
(esgotado)

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

guedelhas
"o relógio"

ela vai voltar...

as boas notícias: Aimee Mann estará em breve no Coliseu de Lisboa

"One" da b.s.o. de Magnólia, sempre excelente...

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

a frase

Um morto pode ser alvo de arrebatados clamores que lhe acentuam os traços e os elevam na fantasia da dor. Porque a dor é mais imaginosa do que a alegria. A perda de alguém que se ama traz aos sentidos flores de retórica insuspeitadas.
.
.
.
AGUSTINA BESSA LUÍS
"O Mistério da Légua da Póvoa"
O Independente, 2004

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Francisca de Manoel de Oliveira

Sendo mais um filme do chamado "ciclo camiliano" de Manoel de Oliveira, "Francisca" é importante também por ser a primeira das várias adaptações do cineasta de livros da escritora portuense Agustina Bessa-Luís, neste caso a famigerada "Fanny Owen"; mas simultâneamente por ser mais um gigantesco passo em termos de estilo para o realizador. De facto, em Francisca os travellings são raríssimos, e nos poucos que há, a lentidão é tanta que por vezes são quase imperceptíveis.No entanto, em termos de estilo, o que mais ressalta é sem dúvida a fortíssima teatralização, como se Oliveira estivesse mais interessado em filmar teatro do que na criação de uma situação em que o papel do escpectador é propositadamente ignorado (Quando, como aqui, os actores se dirigem à câmara, assumem que alguém os irá ver/ouvir posteriormente.).




Há que dizer que este filme segue "Fanny Owen" de uma forma bastante plena, pelo que não é injusta a afirmação de que este livro tem, pelo menos, tanto de Agustina como de Oliveira. Veja-se a demarcada presença da família, o ambiente aristocrático, a cidade do Porto como cenário de fundo (Ou as suas redondezas.), a análise social sempre com um pé pousado no realismo e no naturalismo e, claro, a personagem do próprio Camilo Castelo Branco, tão querido da romancista.
É precisamente esta personagem de Camilo que, mesmo não sendo o protagonista, vai conseguir evidenciar-se como se o fosse. Ele funciona quase como o coro no teatro grego, discursando sobre os acontecimentos, mesmo os futuros, com uma notável clarividência, com a diferença que o Camilo que Oliveira nos apresenta em "Francisca", tal como o de Agustina, é um humano que tanta salvar outro ser humano, neste caso Francisca Owen, das mãos do seu melhor amigo, José Augusto.
"A Alma é um vício"
diz-lhe, algures pelo início, Francisca. E é este vício que será atormentado e que será explorado ao máximo ao longo do filme, e em três partes: Francisca, José Augusto e Camilo. Desde o casamento entre os dois primeiros que se concrectiza após Fanny ter fugido de casa, até ao momento em que Camilo descobre que Fanny dirigira cartas a outro homem sobre o seu marido, o que leva este a desconfiar da sua virgindade e a não consumar o casamento.
Após a morte de Francisca, uma pergunta fica sem resposta:
"_O que faz com que amemos alguém?"
Não sabemos. Tudo o que vemos é o coração de Fanny, de onde brotavam nem o Bem nem o Mal, mas simplesmente a Força. É isso que se depreende das palavras de José Augusto, e é isso que resume a protagonista desta história Agustiniana.



Definitivamente estético e quase irrepreensível em termos visuais, "Francisca" conta também como brilhantes interpretações da actores como Teresa Meneses, Diogo Dória, Mário Barroso (Efectivamente muito semelhante a Camilo.) ou Lia Gama.
No entanto, a sequência da história peca pelo final: é muito habitual em Agustina Bessa-Luís que o desfecho da história não coincida com o desfecho do livro. No entanto, "Francisca" é um filme longo por si só, mas depois da cena em que a história efectivamente termina, o filme continua por tempo demais quando o essencial é apenas a cena da capela.
Apenas por esta pequena questão de montagem o filme não é perfeito.

domingo, 28 de setembro de 2008

V

Toma o meu corpo transparente
no que ultrapassa a tua exigência taciturna.
Dou-me arrepiando em tua face
uma aragem nocturna.

Vem contemplar nos meus olhos de vidente
a morte que procuras
nos braços que te possuem para além de ter-te.

Toma-me nesta pureza com ângulos de tragédia.
Fica naquele gosto a sangue
que tem por vezes a boca da inocência.


Natália Correia
POEMAS
1955

sábado, 27 de setembro de 2008

o corpo o luxo a obra

(excerto)

..............As caras irrompem
dos nós de sangue, os rins de uma
...........................................................coluna
enraizada, uma
constelação calcária.
...................................Às vezes
o mármore reflui numa onda muscular,
e sobre a torsão
interna
as mãos cruas ardem.
E o golpe que me abre desde a uretra
à garganta
..................brilha
como o abismo venenoso da terra.
A pupila deste animal grande como uma pálpebra
ao espelho, nua, a dormir,
.............................................sob as radições
brancas.

Herberto Helder
O CORPO O LUXO A OBRA
&etc 1978- esgotado

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Acto de Primavera de Manoel de Oliveira

A reprodução da população de Curalha da Paixão de Cristo surgiu a Manoel de Oliveira quando este, no final dos anos 50, procurava pela província uma paisagem com moínhos para integrar no seu filme "Pão".
O espectáculo/ manifestação religiosa surpreendeu-o tanto que decidiu filmá-lo. Ao resultado chamou "Acto de Primavera".
O que é interessante neste acto é a destruíção (Ou depuração.) pela total fusão entre a realidade e a encenação, o documentário e a ficção:
é certo que Oliveira filmou o teatro popular. Mas ele não deixa de ser teatro, e daí, uma representação.

Mais ainda, é interessante ver a inocência, o não profissionalismo dos actores: há que não esquecer que estemos, acima de tudo, perante uma manifestação popular religiosa.
E o que, em conceito, é uma excelente ideia, na prática, e a meu ver, resulta muito menos bem.
Se, por um lado, algumas expressões (De aspecto e/ou de encenação.) de Nicolau da Silva o fazem um verdadeiro sósia de Cristo, ou Maria Madalena surpreende pela ambiguidade ao beijar-lhe os pés; por outro lado o filme não deixa de oferecer um ruído excessivo, principalmenta nas vozes das mulheres ao cantar que, ainda que por tradição agúdas, não deixam de ser excessivas e muitas vezes torna-se impossível entender o que os actores dizem.
Também por tradição, os personagens, ao cantar, entoam sempre as mesmas melodias, mas ao longo de 90 minutos, estas tornam-se repetitivas e, sinceramente, irritantes.
O final também não abona a favor desta película. As imagens de Cristo crucificado entrecortadas por imagens documentais da bomba atómica, não deixam de ser moralistas e fundamentalistas.
Aparentemente, "Acto de Primavera" foi um dos filmes mais controversos de Manoel de Oliveira. Eu elogio o conceito, mas não fiquei particularmente bem-impressionado com o resultado.

A Caça de Manoel de Oliveira

Aproveitando a muito feliz iniciativa da Fundação de Serralves de expôr a obra do realizador português Manoel de Oliveira, aqui ficam as minhas impressões da curta-metragem "A Caça". Realizado em 1963, a ideia original de Oliveira era uam longa-metragem, mas acabou por se ficar pelos 21 minutos. Esta curta poderá ser incluída no mesmo grupo de "Pão" e "Acto de Primavera", onde o cineasta usa cenários naturais e actores amadores.

Parece-me que o caso de "A Caça" terá sido muito bem-sucedido.


É a história de dois rapazes a deambular por um terreno de caça mormente preenchido por pântanos. Após uma cena particularmente boa em que são ameaçados por um caçador que aponta a caçadeira directamente à câmara, discutem o assunto que acaba por parecer paradigmático:
"se os animais fossem bons não se matavam uns aos outros."
Filosofias à parte, os dois rapazes vão brincando pelo imenso terreno, até que um deles fica preso num pântano. O amigo corre à população mais próxima a pedir ajuda.
Os homens que acorrem formam um cordão humano para salvar José, que se afoga. No entanto, quando o cordão se quebra, todos ficam distraídos a discutir quem foi o responsável, deixando o rapaz a afogar-se, seguro apenas por um maneta, que no meio dos outros berros grita
_A mão, a mão, a mão...
tudo enquanto um cão ladra agressiva e ruidosamente para a câmara.
Numa sequência acrescentada por ordem da censura, o rapaz é salvo, mas a concepção original de Mnaoel de Oliveira parece-me mais interessante na medida em que, como quase tudo no filme, acaba por se tornar num paradigma:
Quem, num terreno de caça, não caça, é caçado.
Além desta, é também de referência a ideia de que a salvação de José passa para segundo plano quando se começa a tentar "caçar" um culpado.
A rever.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

dando atenção ao meu pedido


alguém me fez incrivelmente (e infantilmente) feliz... finalmente

!!!

sábado, 20 de setembro de 2008

o poema



Pergunta-me por ti a minha mãe.
Respondo
que continuas no lugar
onde eu não sei.
Quando me pergunta por ti
a minha mãe
parece saber coisas
que nem tu sabes,
nem eu sei.
Por que continua a perguntar
por ti
a minha mãe
não entendo.

A minha mãe não reza. Nunca rezou.
Mas, por vezes, parece saber
o que tu não sabes,
nem eu.
Saberá a minha mãe,
como se deus?


Helga Moreira, "Agora Que Falamos de Morrer", 2006
edição &etc
imagem: ÂNGELO DE SOUSA

sábado, 13 de setembro de 2008

a frase

los jovenes no estan corrigiendo a la sociedad, la estan vomitando

celeste viriato
"patchwork"
1980- edição &etc (esgotado)

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

o poema de Agustina


Não quero cantar amores,
Amores são passos perdidos.
São frios raios solares,
Verdes garras dos sentidos.

São cavalos corredores
Com asas de ferro e chumbo,
Caídos nas águas fundas.
Não quero cantar amores.

Paraísos proibidos,
Contentamentos injustos,
Feliz adversidade,
Amores são passos perdidos.

São demência dos olhares,
Alegre festa de pranto.
São furor obediente,
São frios raios solares.

Da má sorte defendidos
Os homens de bom juízo
Têm nas mãos prodigiosas
Verdes garras dos sentidos.

Não quero cantar amores
Nem falar dos seus motivos.


Agustina Bessa-Luís
para o álbum "Garras dos Sentidos" de Mísia,
1998
Fotografia: Daniel Blaufuks, "Urban Landscapes"

terça-feira, 9 de setembro de 2008

do Fado chegam-nos

boas notícias:

Mísia tem site renovado, e definitivamente melhor que o anterior. Nele podemos ver, além de detalhes sobre os seus projectos "Lisboarium" e "Saudades Sinfónicas", uma antologia de videoclips (aqui) incluindo Garras dos Sentidos (Letra de Agustina.), Ese Momento (Que vivamente recomendo) e Duas Luas; bem como uma selecção de fotos, artigos de imprensa e a lista de concertos agendados (A má notícia é que, para variar, não há nenhum em Portugal- para já, esperemos.)

A mesma Mísia já se encontra a gravar, em Paris, a segunda parte do seu próximo álbum, cuja primeira parte foi registada aquando a assinatura do contracto com a Warner.

Mariza prossegue na digressão de "Terra" e passará por Portugal nos dias 17 e 18 de Outubro, em Gondomar e Guimarães, respectivamente.

Por fim, Katia Guerreiro, já a gravar o próximo álbum, actuará em Lisboa no dia 13 de Setembro.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

o poema/ a foto


Senta-te
.......... Vamos passear à tarde com os olhos
........................................................ Juntos
Conta-me as tuas histórias
E eu contei inventei e descobri na tua garganta
um ciúme escondido
Mas tarde deitamo-nos
e eu dizia em sonhos Amanhã vou nascer e as tuas lágrimas
serão para lavar-me as virilhas/ a boca/ as unhas
Com um beijo na testa disseste Acorda O dia existe
nos pássaros nos telhados nas fontes E abraçámos
as nossas vidas em plena noite.

JOSÉ ALBERTO MARQUES, "A Aprendizagem do Corpo"
1983, edição &etc- esgotado
Fotografia: LARRY CLARK

ilustração


Um desenho feito para adornar um texto há muito eliminado e esquecido.

domingo, 7 de setembro de 2008

estaca


Ancorado
na mansidão aflita dos montes
que entre si
passam
a imobilidade de um pássaro

de mãos nos bolsos migrando
para olhares
em altitudes de estaca

o sangue deixando entregue
ao infinito o pensamento

aterrando
no dorso metálico
da primeira andorinha de que haverá memória

de olhar cumprido
deixado à mercê
das folhas sadias e rasteiras
toma
a palavra antiga da terra
de sol a sol acometida

RUI LAGE, "Berçário"
2004, edições Quasi
imagem: Caspar David Friedrich
"Homem e Mulher Olhando a Lua", 1824

sábado, 6 de setembro de 2008

citação e comentário

"Todas as coisas, todos os objectos animados e inanimados que são diferentes estão marcados de forma indelével. O eu é indelével porque é diferente. Este é um arranha-céus, como disse, mas diferente do arranha-céus comum..."
.
Henry Miller
"Trópico de Capricórnio" 1939
.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

lynch também dá música

Certamente mais conhecido pelos seus filmes do que pelas suas passagens pela música, como autor de letras, David Lynch tem definitivamente uma relação com a música. Quanto mais não seja porque muitos dos seus filmes são marcados por canções que nunca mais deles se dissociam.


"Blue Velvet", aqui na voz de Isabella Rossellini. Do filme com o mesmo nome



"I fell for you baby like a bomb" é certamente uma das frases mais felizes do mestre Lynch. "Up In Flames" na voz de Koko Taylor foi escrita de propósito para "Wild At Heart".


"Llorando" de Rebekah del Rio é o ponto alto da cena do Club Silêncio de "Mulholland Drive"


"Mysteries Of Love" fez parte da banda sonora de "Blue Velvet". Aqui em versão de Antony and the Johnsons, do EP "Fell In Love With a Dead Boy".

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

1 poema de Regina Guimarães+ 1 foto de Peter Hujar



Quem se queixa
Quem gueixa queimada responde:
Não te quero, pimenta foras
duma iguaria sensata
disposta como uma montanha.

Nem lei se ouve
quanto mais ler nos restos
quanto menos servir-se da luz pela esquerda
nesta desordem de pratos limpos.

Nem sineta chama os dois convivas
nem música dispersa as letras do rebanho.
Todos vêm ao chamamento de nada
diluvianamente falando.

Outros outroras equivalem
sem haver tempo para os amortalhar.
Tudo isto me explicas e eu não entendo
muito de leis muito de leis muito de leis.

Ronda-me a casa um segredo de azuis, troféus.
Quando saio carimba-me o corpo todo
e faço fraca figura
porque o meu feitiço já não condiz comigo:
Sua cortêsmente, etc.





Regina Guimarães, "Vacina"
retirado de "Anelar, Mínimo", edição &etc
1985- esgotado

Foto: "A Noiva Marroquina" de Peter Hujar

terça-feira, 2 de setembro de 2008

1 poema de Adília Lopes com uma foto tirada com as minhas mãos



.......................................................A vida
.......................................................é luta
.......................................................e eu gosto
.......................................................assim

......................................................Só da luta
......................................................da noite
......................................................com o dia
......................................................nasce
......................................................o dia

......................................................Só da luta
......................................................do dia
......................................................com a noite
......................................................nasce
......................................................a noite



Adília Lopes
"Caderno", 2007- edição &etc (esgotado da editora)




A fotografia foi tirada no Metro do Porto, na estação 24 de Agosto, onde os vidros dos elevadores estavam partidos, ou estalados, desta forma que achei bonita.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

algumas palavras de Alice Corinde ilustradas com um desenho feito pela minha pessoa



Ouvirei daqui, dum existir incerto,
as gravações dos ossos no computador,
e a miséria dum silêncio barulhento e imbecil
que escorre pela rádio- enquanto,
mais à frente, o sangue explode no interior das casas
de comércio, ou vai entrando nas páginas a incendiar
da contabilidade. Entenda-se: contas são contas,
mas por isso mesmo é que o tempo se avizinha
dum indolor abismo, dum zero bruxuleante
banalizado. (...)
(...)
No ar rarefeito, a respiração do século aí há-de ficar:
tossindo em frente. Chegará a indústria farmacêutica
desse bom-senso suicida
para manter incólume uma tal sociedade
-este monte de merda reluzente?



Alice Corinde
excerto de "A Música Arde, ao Descer"

de "ARBEIT MACHT FREI"

Fenda Edições, 1985- esgotado
também publicado na antologia "Sião", Frenesi, 1987 (esgotado)

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

a propósito

o meu amigo k4 está de volta aos blogs. Depois do "Esse Obscuro Objecto do Desjo", é a vez do "IN-Flama", que já podem (E DEVEM.) visitar.

sítio lido IV



Estremeço.
No coração.
As letras vêm de lá
E da mão.

Padeço:
o eco – perco-o –
sai da garganta
e da distância.

Palavra é o que lembo
Ou o que meço?






Luiza Neto Jorge,
"Os Sítios Sitiados"
Plátano Edições, Colecção Sagitário, 1973


imagem: "São João" de Odilon Redon

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

antero



Falo como doente,
não entro nem quero entrar em questões;
mesmo que soubesse onde estava a razão,
mesmo que essa razão fosse completa, em todos os pontos,
o meu conselho seria sempre o mesmo: esquecer.


Antero de Quental, "Cartas" (primeira série)


.


.

O pior, no entanto, não era a consciência desses seres ausentes, nem da sua situação transitória, vivendo uma espécie de morte suspensa, o pior era a insónia e o não poder tapar os ouvidos ao barulho do vento nas frinchas e telhados, trazendo até ele gritos, soluços de ânsia, murmúrios, velhas vozes da sua infância, um choro perdido algures e que agora novamente lhe despertava esquecidos pesadelos.
Nuno Júdice, "Antero- Vila do Conde", 1979
edição &etc, esgotado

imagens: capa de "Antero-Vila do Conde", e retrato de Antero de Quental por Columbano

terça-feira, 26 de agosto de 2008

5 momentos de puro palco


Tori Amos, "Cruel". Como Pip em Provinssirock - Seinäjoki, na Finlândia, em 2007. Uma canção de "From The Choirgirl Hotel", de 1998, recuperada para um concerto da tour de American Doll Posse.


Bjork, "Oceania". Ao vivo na abertura dos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. A capella, como introdução ao mal-amado Medulla, lançado logo depois, e condenado a não ser entendido por quase todos. No entanto, vale mesmo a pena.


The Gift, "Cube". Pensado ao pormenor, da decoração do palco às roupas. Sónia Tavares e restante banda, de Alcobaça para o mundo. Do dvd de "Fácil de Entender", qualquer faixa poderia aqui estar.


Marilyn Manson, "The Beautiful People". Nos prémios da MTV. O "Antichrist Superstar" no seu melhor, uma performance digna de chocar as pitas histéricas que esperavam a Britney nos VMA´s.


Madonna, "Confessions/ Live To Tell". Com o Vaticano contra, absolutamente indiferente. É a rainha da pop, crucificada na "Confessions Tour". A ver.

crónica com alguns meses



A manhã serve para arrumar a noite anterior. Dar-lhe um pontapé para um canto do quarto, deixá-la esquecida até mais ver. Há que correr entre o tomar banho, o vestir, o tomar o pequeno-almoço de pé, a olhar para fora da janela a ver sabe-se lá o quê, são coisas de que ninguém se lembra.
Vestir o casaco, arrumar o que se quer levar, sair e fechar a porta á chave. A rua é sempre cinzenta, não interessa em que parte do dia se está. Percorro-a a andar depressa, como se estivesse atrasado para o comboio, e estou atrasado, mas não é para o comboio. Por vezes tenho muita pena de não sair de casa com tempo suficiente para percorrer as ruas devagarinho, reparar nos prédios antigos com azulejos que já não se usam, reparar nas clarabóias, reparar nas portas altíssimas de madeira envernizada sucessivas vezes, grades pintadas e vidros atrás, ainda que raramente se veja uma pessoa em vez do vidro, a olhar cá para fora, como se tivesse saudades da vida.
Os carros fazem música quando aceleram, com mais pressa do que eu. Levantam poeiras várias, e deixam fumo cinzento evanescente atrás de si, como que a prolongar a sua presença. Quando o semáforo lhes mostra a luz vermelha rosnam furiosamente para quem atravessa a passadeira, como eu. Quando tenho que esperar no passeio, os olhos ficam-me presos na sombra dos carros e na sombra das pessoas, como se não me interessasse saber quem é, apenas me interessasse o movimento.
Estar no trabalho é um aborrecimento, é querer não estar no trabalho, é querer sair e atravessar de volta a estrada, voltar para casa, talvez para dormir de novo, talvez levantar do canto do quarto a noite anterior.
A hora de almoço é igualmente frustrante, ainda que seja tempo dito livre, serve essencialmente para voltar para de onde se veio.
Sair do trabalho, sim, é uma libertação. As ruas estão ainda mais cinzentas. Quando faz frio, por norma o ar é negro, e as fachadas são iluminadas pela luz dos candeeiros, cor-de-laranja ou branca. Sempre gostei dessas luzes, parecem ser um rasgão na realidade, um furo piedoso na escuridão.
Quando chego a casa, encontro-a dentro de um silêncio confortável, e de uma escuridão reconfortante. Acendo as luzes só para não tropeçar nas mesas, nas estantes, nos livros pousados pelo chão por falta de espaço. Por norma ouço música, ou fico a ler um pouco, ou as duas coisas.
Comer não é importante, é sobrevivência. Faz-se para não se ter fome, para não se morrer.
Depois do jantar, no tempo que resta até se ir dormir de novo, é provavelmente a melhor altura para, se houver razões para isso, ir buscar ao canto do quarto a noite anterior, ou, quem sabe, o dia de hoje. Em boa verdade, a única altura de mim para mim é antes de me deitar, quando estou á vontade para, se quiser, não fazer nada. Nada que não seja sentar-me ou deitar-me, e ficar a olhar para o tecto, quase a esquecer-me que tenho vida. Um pouco antes de me enrolar nos lençóis, e caminhar para uma noite da qual não me lembrarei, ou para mais uma insónia que me custe o dia seguinte, onde tudo se repete da mesma maneira, pois todos os dias são normais.



Porto, 12 de Maio de 2008




imagem: Alfred Stieglitz, 1915

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Sobre “A Casa do Incesto” de Anais Nin

Demorou cerca de um mês e meio a minha leitura de “A Casa do Incesto”.
Escrito em 1949, este conto gira em torno de Sabina, personagem que reaparecerá nos romances da escritora, por exemplo “Uma Espia na Casa do Amor”. Sabina é inspirada em June Miller, segunda mulher de Henry Miller, e que inspirou a este último a sua Mona, personagem de, entre outros, “Trópico de Câncer” e “Sexus”.
Esta enigmática mulher, corrupta e obscura em Miller, é, em Anais Nin uma heroína, autêntica beauty queen descrita e vivida com toda a beleza e sensibilidade.

E é precisamente nesta poesia que “A Casa do Incesto” perde: é excessivo, descrevendo até à exaustão os pormenores, poeticamente sim, mas também em demasia, retirando a possível segunda leitura que o leitor poderia fazer. No meio de tudo, a história é secundarizada, acabando eventualmente por se perder.
Famosa pelos seus diários, é num deles que podemos ler uma carta escrita por Henry Miller em que este afirma que a obra de Anais Nin é “mais profunda e mais bela do que nenhuma outra”. Profunda é, bela certamente. No entanto, é em demasia, e acaba por ser difícil de ler e de retirar alguma coisa dela.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

"perfeito em todo o crime"



Habitar dias expulsos, quase inerme,
inteiramente sustendo leveza e paixão, o linho
em noites azulíssimas.
E contudo pária, canto que escrevo e perfeito em todo o crime.
Olhar o corpo, a pedra no corpo, a rebentação no olhar,
lugar onde um só ser teria nome.
Ter lembrada a distância, o desejo no rosto imóvel,
escrita mediúnica de fim de tempo
eterno voo.





Helga Moreira
excerto de "Sangue, Versos e um Nome"
inéditos publicados na antologia "Amor Luxúria e Morte",
Mirto editora, 1987- esgotado


imagem: William Turner, "Os Pescadores no Mar"