quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Sophie Barker: Earthbound

A MULHER QUE VIVEU DUAS VEZES

Quando vemos o nome de Sophie Barker nos créditos dos primeiros dois álbuns dos Zero7 ou nas “Quiet Letters” dos Bliss, e quando vemos o seu nome na capa de “Earthbound” não é difícil acreditar que são uma e a mesma pessoa. Mas se a ouvirmos em Zero7, em Grooverider, em Groove Amanda, ou em Bliss e se a ouvirmos naquele que é o seu primeiro álbum a solo, é quase sobrenatural pensar tal coisa.


Se também Sia Furler demonstra um outro lado seu nos seus álbuns a solo, a verdade é que “Earthbound” não é só um outro lado de Sophie Barker, é uma Sophie Barker com pouco em comum com a que interpreta as canções das outras bandas. Porque se Sia mantém os seus traços próprios ao apresentar-se sozinha, Sophie renega tudo o que faz acompanhada e entrega-se inteira a simples e acústicas ou semiacústicas composições Folk, despidas de qualquer artifício, e, estranhamente, também de toda a electrónica. O único instrumento não acústico que é ouvido neste álbum é a guitarra eléctrica que surge por vezes, e uma electrónica discreta em “Angel”. As canções não são gravação recente. Esta é uma colectânea de canções que Sophie tem escrito e gravado desde há alguns anos, algumas delas em parceria com Robin Guthrie, dos Cocteau Twins. Talvez isso tenha ajudado a que este seja um álbum curto. De oito canções é feito, mas que valem por muitas.
Apesar da referida dispersão cronológica, “Earthbound” é um álbum focado. Feito de uma imagética ora rústica, ora nocturna, começa com o excelente “Secret”, que, se não for a melhor canção destas oito, será uma das melhores, certamente. Segue pelo excelente “Stop Me”, onde a guitarra eléctrica pontua em sintonia com a voz de uma independentista Sophie que nos canta “Finally I´m alone.” Segue-se “Dreamlife”, delírio acústico, e “Wintertime”, possivelmente o tema mais irrelevante de “Earthbound”. “On My Way Home” é a letra que mais segue a estética do storytelling, inserida numa música que sem ser má, é facilmente ultrapassável, neste contexto.




“Start Me” é o mesmo passo quase em falso de “Wintertime”, não seduz particularmente. Mormente quando é seguida de algo tão brilhante como “Angel”, a canção da electrónica muito subtil, que, com muito boa vontade, nos remete um pouco para os Zero7, ou talvez mais até para os Bliss. A terminar “Strumble” é o tema que se desvia da matriz dos anteriores, soando quase a um country-rock, mais do que a folk, sem deixar de ser uma boa composição, simplória, num esquema canonizado que, com a mestria com que nos é apresentado, se torna agradável, e não banal.
Entretanto, Sophie iniciou uma colecção de álbuns de música para crianças e elas que me perdoem, mas esses álbuns não me interessam, porque provavelmente não gostarei deles. É por álbuns como “Earthbound” que nos devemos lembrar de Sophie Barker, que, de repente, nos mostra que merece ser vista como algo que mais que “aquela que cantava com os Zero7”.

Veredicto: 17/20

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