quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Maria João: João

CANTO DOS DEUSES



Muito se tem falado dos álbuns de Maria João, Maria de Medeiros, Teresa Salgueiro e JP Simões, por terem em comum uma coisa: serem álbuns de portugueses a cantar canções brasileiras. Sobre isso, já disse o que tinha a dizer quando comentei “A Little More Blue” de Maria de Medeiros.
Mas, sobre “João”, o álbum de Maria João, tenho outras coisas a dizer. Para começar, há que realçar uma coisa, que a própria Maria João já realçou: muito antes de estar na moda ser-se português e cantar com sotaque do Brasil, já ela o fazia. Exemplos recentes são as excelentes versões de “Undercovers”, a par com Mário Laginha, de “O Quereres” de Caetano Veloso, “Esse Seu Olhar” de António Carlos Jobim, “Marco Marciano” de Lenine, ou do tema folclórico “Cantiga (Caico)”. Isto para ir só ao mais recente. Ou seja, em Maria João, a escolha de cantar músicas brasileiras soa a algo muito coerente, e não inesperado, como acontece com Maria de Medeiros e Teresa Salgueiro.
De todos esses álbuns, “João” é, provavelmente, o melhor.
Maria João faz, como sempre fez, a opção de cantar as coisas como lhe soam melhor. Assim sendo, muitas vezes nem chega a usar o sotaque brasileiro, usando outros, ou usando mesmo a pronúncia portuguesa de Portugal. Isso é bom. Assume as canções como se as tivesse feito, com total liberdade de interpretação, e evita colar-se aos originais. Ao mesmo tempo, também se mantém na linha que a caracteriza ao longo dos dezassete álbuns anteriores.
A nível dos instrumentos, e dos arranjos (De Miguel Ferreira, dos Blind Zero e dos Clã.), escolhe também caminhos menos óbvios. Evita (E esse é um caminho que também Maria de Medeiros escolheu, mas de uma forma mais direccionada.) assim a pretensão de criar uma sonoridade “abrasileirada”, limitando-se a colocar aquilo que lhe parece, e á equipa da produção, o mais adequado.
Escolheu, também, um reportório diversificado, e, ao contrário de Maria e de Teresa, que se ficaram pelos veteranos, Maria João escolhe também autores mais recentes, interpretando Chico Buarque, António Carlos Jobim, Marcelo Camelo, Ary Barroso, Caetano Veloso, Edu Lobo, Marisa Monte, Geraldo Pereira, Vinicuis de Moraes e Zequinha de Abreu. Oferece-nos, então, estas interpretações, com toda a expressividade a que nos habituou, e com uma autenticidade omnipresente, criando, assim, performances únicas.
Temas de destque, “Retrato a Preto e Branco” de António Carlos Jobim, abre o álbum, e muito bem. Uma canção promissora, que contém já alguns dos traços genéricos daquilo que será o restante. “Choro Bandido” de Cida Moreira é outro, “A Outra” de Marcelo Camelo, que é o single de avanço, é, certamente, uma das interpretações mais valiosas do álbum, com arranjos de harpa simplesmente deliciosos, “Partido Alto” de Caetano Veloso, merece também referência.
Enfim, aparte de todas essas teorias da música brasileira em Portugal, “João” é, sem dúvida, um dos discos do ano, ou não fosse ele o decimo sétimo de uma cantora que, por dezassete vezes, já mostrou que é única.

Veredicto Final: 19/20

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