terça-feira, 27 de março de 2007

"Dois Espaços" de Helena Almeida

Não podia deixar em branco a minha descoberta pessoal da colecção de 2006 de Helena Almeida, "Dois Espaços".
Ou isto só veio a público agora, ou sou eu que ando muito distraído ultimamente.
"Dois Espaços" surge depois de um "Estudo Para Dois Espaços" dividido entre uma colecção de fotografias e um vídeo apresentado no Bienal de Veneza de 2005, que foi, aliás, a última colecção de que ouvi falar da artista.
Ficam algumas das imagens que integram a colecção mais recente, em que, após uma fase em que utilizava apenas o seu corpo fotografado, Almeida volta ao vermelho com que se estreou na série "Sem Título" de 1994/95.

E por falar no Bienal de Veneza, não posso deixar de gabar a escolha de Ângela Ferreira para a representação portuguesa de 2007.

segunda-feira, 19 de março de 2007

Blind Zero- Time Machine: Memories Undone 1993-2007

MEMÓRIAS DE ELEFANTE


Ao fim dos primeiros 13 anos de carreira, de seis discos, e de muitos palcos percorridos, os Blind Zero editam "Time Machine: Memories Undone 1993-2007", uma espécie de Best Of ao vivo. O conceito de fazer uma retrospectiva ao vivo não é inédito (Olhemos para "Vivo" dos Clã ou "Fácil de Entender" dos The Gift.) mas merece, claro, o seu mérito, principalmente quando se fala de uma banda como esta, em que os concertos conseguem ultrapassar, e sem dificuldades, os álbuns de estúdio. "MTV Live In Milan" era uma (Literalmente.) pequena demonstração. "Time Machine..." é outra abordagem. Para começar, cobre os álbuns de uma forma mais abrangente, e depois, a selecção é calculada sem atender ao sucesso comercial etc, sendo uma colecção das melhores canções, ou pelo menos, com mais potencial ao vivo, sem a ideia de promover um dos álbuns que é necessária ao alinhamento de um concerto.
Algumas canções, obrigatórias, estão presentes ("The Down Set Is Tonight", "Skull".), outras surgem, ainda que não fosse previsível, mas ainda bem ("Absent Without Permission"; "Another One") e algumas... faltam... claro que isto é só uma opinião pessoal, mas faltava ali "Criminal Grace" ou "Nothing Else Goes", ou uma das minhas preferidas de sempre: "Wish Tonight". O álbum está muito bem equilibrado entre as canções mais melancólicas, as mais calmas ("Super8") e as mais agressivas ("You Owe Us Blood"), e é de notar a presença de um dos momentos mais intimista (Senão o mais intimista.) de toda a discografia da banda do Porto, "Sad Empire", numa versão que tem um interessante efeito secundário: perguntamo-nos qual das versões é a melhor: a de estúdio ou esta?
Momento de referência obrigatória é a versão de "Drive", dos The Cars, uma versão acústica que nem por isso deita por terra aquilo que será a alma dos Blind Zero. O vídeo está também muito bom.
No fim... nem todas as bandas se podem orgulhar de memórias assim. As escolhas da banda de Miguel Guedes podem nem sempre ter sido as mais óbvias, mas acabaram sempre por se revelar tão coerentes como decisivas na evolução que a banda atravessou e que, neste álbum, mais do que nunca, se torna evidente. Só essa visão periférica já faz a compilação valer a pena. Mas este disco é algo mais... um retrato de momentos dispersos que, ao serem colocados juntos, como uma manta de patchwork, conseguem, sem dificuldade fazer uma unidade. Ainda bem.
Mais detalhes, vídeos, etc, etc, etc no blog da banda, http://www.blindzero.blogs.sapo.pt/ por acaso bastante bom.


Juízo Final_ 19/20

segunda-feira, 5 de março de 2007

Bjork: Drawing Restraint 9

O MAL ENTENDIDO



Vasculhando os livros de arte na Fnac, descobri uma peça imprescindível, que não podia deixar de ter: um livro com imagens (E não só.) do filme de Matthew Barney "Drawing Restraint 9". Não vi (Ainda.) o filme, e (Ainda.) não sei como o vou ver, mas sei que vou. Serve isto de introdução para o comentário ao álbum da banda sonora, composta pela mulher do realizador, a não menos invulgar Björk, de quem eu tanto gosto. Quando comprei "The Music From Drawing Restraint 9", em Agosto de 2005, sabia muito pouco sobre o seu contexto. O que li, depois, em termos de críticas, não foi bom. No Blitz ainda admitiam a hipótese da música nos soar de uma outra forma após termos apreciado o filme, mas, por exemplo, na Magazine das Artes, chamaram-lhe um naufrágio. Escrevo, mais de um ano depois, para contrapor tudo isto.
Diga-se de passagem que não é fácil gostar deste álbum da pequena islandesa mais famosa do mundo. "Drawing Restraint 9" é feito de sons estranhos, aguçados e por vezes quase hostis. Mas, na sua essência o álbum é bom.





Mas bom não quer dizer perfeito, e esta banda sonora tem vários erros: é muito dispersa, de maneira que o disco em si não é uma obra, mas 11, cada faixa é individual e não encaixa nem na anterior nem na seguinte (Com excepção de Hunter Vessel e Vessel Shimenawa, em que o segundo é quase uma continuação do primeiro, ou de Shimenawa e Antarctic Return, idem aspas.), algumas faixas têm menos do que se anuncia ( Onde se ouve a harpa de Shimenawa?), e outras contêm, de facto, menos do que seria de esperar (Holographic Entrypoint quase á capella pedia por um outro fundo instrumental.), e, quando se acaba de ouvir o álbum fica uma pouco agradável sensação de que há uma predisposição para colar nestas canções conceitos de álbuns passados de Bjork: o caso da importação de Tanya Tagaq de "Medúlla" para o tema "Pearl", do som de "Frosti" do álbum "Vespertine" para "Cetácea", etc.
Mas não é só de manchas que é feito "Drawing Restraint 9": "Gratitude" com a voz de Will Oldham enrolada na harpa de Zeena Parkins não podia ser um melhor início, os estados de espírito misturam-se, faixa a faixa, a sonolência de "Bath", a isaltação de "Hunter Vessel", o dramatismo de "Storm" ou a felicidade de "Cetácea". A nível das composições, elas são simples, melodiosas, gravadas e arranjadas de maneiras pouco óbvias, com bastante energia, e principalmente, um perfeccionismo pouco exagerado.
"Drawing Restraint 9" é incapaz de fazer sombra a "Debut" ou "Homogenic", os seus sons não conseguem ser tão celestiais como em "Vespertine", não há nem réstias da agressividade de "Post", nem da soltura de "Gling Glo", nem da sobriedade de "Medulla", mas a banda sonora deste filme de Matthew Barney está bem longe de ser um mau disco, bem pelo contrário. Só não deixa um caminho muito óbvio pela frente. E depois???





(Uma nota muito positiva também para a direcçã0 de arte, uma das melhores de todos os álbuns de Bjork.)


Veredicto final: 16/20
DO FILME:
O Trailer: aqui
Uma Cena de Dança/ Marcha: aqui
A Cena do banho/ Videoclip de "Bath": aqui
A abertura/ video para "Gratitude": aqui
"Ambergris March": aqui

"Oculto" de António Hernandez

MONÓLITOS SEM RAZÃO DE SER






Fui ao Rivoli, uma das minhas salas preferidas, na Sexta Feira, ver o filme "Oculto" que passava no Grande Auditório no âmbito do Fantasporto 2007. A película, de António Hernandez é protagonizada por uma actriz de novelas colombianas, Angie Cepeda, e por Leonardo Sbaraglia, actor de nacionalidade argentina.
Em traços gerais, a história é a seguinte: o Centro Cultural onde trabalha Beatriz recebe uma palestra sobre o significado e poder dos sonhos. No final, Natália, designer de moda, expõe as suas dúvidas em relação a três sonhos envolvendo monólitos com inscrições, que acredita serem premonições. Mais tarde, Natália conhece Beatriz, através de um jornalista, uma vez que a última acredita que uma tatuagem que (Supostamente.) havia feito há seis anos atrás a relaciona com a primeira. Á medida que a história e a psicose de Natália avançam, vamos descobrindo que a conexão de Beatriz com Natália não advém dos sonhos, mas sim de uma situação mal resolvida que envolve o desaparecimento de Javier, o antigo marido de Beatriz que a havia deixado por Natália, que, por sua vez, o havia deixado a ele, precisamente no dia em que ele desaparece.
Num enredo assim, não deixa de ser irónico que a protagonista seja uma actriz de telenovelas da América Latina, conhecidas pelas seus enredos de faca e alguidar, uma vez que, por vezes, a história de "Oculto" não tem pejo em aceitar lugares-comuns de todo dispensáveis. No final do filme, também é inevitável uma sensação de que afinal, o "oculto" em que supostamente o filme vivia não passa de uma desculpa para uma narrativa que tem como assunto uma vingança, perdendo-se o tão promissor assunto dos sonhos, da sua influência e do seu significado. Referências directas a Kubric (2001:Odisseia no Espaço.) ou indirectas ao "Pesadelo em Elm Street" de Wes Craven ficam assim em suspenso, existindo sem um motivo real, mas apenas para mascarar a verdadeira massa do filme. Tudo isto exposto em sequências que não surpreendem, á mistura com frases filosóficas que se revelam descontextualizadas, misticismos sem razão de ser e cenas de sexo explícito. Resultado: uma pergunta: O que faz este filme no Fantas???



Juízo Final: 7/20