domingo, 31 de dezembro de 2006

Maria Rita: Segundo

SEGUNDOS DE OSCILAÇÃO

De Maria Rita já se disseram maravilhas, e já se disseram palavras menos boas. A estreia da filha de Elis Regina aconteceu há três anos atrás, com um álbum homónimo muito bem sucedido. O disco não era nada mau, ainda que não fosse exactamente a maravilha que muitos proclamavam. O reportório era coerente, e cada canção era obviamente escolhida a dedo. Um problema: Maria Rita tentava levar a sua voz para lugares onde ela não pode chegar. Sim, isso era um problema, e principalmente ao vivo. Não é que a menina desafine, mas a voz é que se nota muito mais insegura, e claramente inadaptada. Em "Segundo", as coisas mudam um pouco de figura, mas só algumas coisas.



Há, numa primeira audição, a sensação de que "Segundo" intenta ser a versão corrigida e refeita de "Maria Rita". Vejamos: os músicos são os mesmos, o principal compositor continua a ser Marcelo Camelo, e a sonoridade mantém a complicada mescla de MPB com jazz. E em "Segundo", Maria Rita repete até um tiro no escuro (Que não acerta em bom sítio, por sinal.) que já tinha dado no primeiro disco: cantar em castelhano. Em "Maria Rita", "Dos Gardenias" já soava a um intervalo para descansar, e o sotaque da cantora já deitava por terra a genuinidade da canção. Em "Segundo", a diferença é que o intervalo com "Mal Intento" chega uma faixa mais cedo.

Apesar deste aspecto, há que referir que o segundo álbum de Maria Rita não é mau, e, em certos aspectos, consegue até utrapassar o seu antecessor. A questão dos terrenos que a voz desta brasileira explora é agora abordada de uma forma mais realista, contentando-se a cantora com os registos adequados ao seu timbre. A sonoridade, de um modo geral, não regista muitas diferenças, o que não é bom, a não ser a nível do ritmo, que é aqui muito mais forte.

No fim, a ideia principal de "Segundo" é a oscilação. Somadas e/ou subtraídas todas as correcções, todas as aceitações, todas as mudanças, e todos os conceitos mantidos, o resultado tanto dá em canções muito boas, o caso da abertura com "Caminho das águas", "Ciranda do Mundo" e principalmente "Muito Pouco", como resulta em momentos indefinidos ("Despedida".) ou até mesmo momentos maus, como "Sem Aviso" ou "Feliz".

Em geral, "Segundo" parece, em certos momentos, ser melhor que "Maria Rita", mas, bem vistos todos os aspectos, esta colecção de canções, colocada ao lado da primeira que incluia pérolas como "A Festa", "Santa Chuva", "Pagu" ou "Agora Só Falta Você", pode no máximo igualá-la, mas ultrapassá-la... ultrpassá-la ainda não.

Juízo final: 14/20

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