domingo, 31 de dezembro de 2006

Maria Rita: Segundo

SEGUNDOS DE OSCILAÇÃO

De Maria Rita já se disseram maravilhas, e já se disseram palavras menos boas. A estreia da filha de Elis Regina aconteceu há três anos atrás, com um álbum homónimo muito bem sucedido. O disco não era nada mau, ainda que não fosse exactamente a maravilha que muitos proclamavam. O reportório era coerente, e cada canção era obviamente escolhida a dedo. Um problema: Maria Rita tentava levar a sua voz para lugares onde ela não pode chegar. Sim, isso era um problema, e principalmente ao vivo. Não é que a menina desafine, mas a voz é que se nota muito mais insegura, e claramente inadaptada. Em "Segundo", as coisas mudam um pouco de figura, mas só algumas coisas.



Há, numa primeira audição, a sensação de que "Segundo" intenta ser a versão corrigida e refeita de "Maria Rita". Vejamos: os músicos são os mesmos, o principal compositor continua a ser Marcelo Camelo, e a sonoridade mantém a complicada mescla de MPB com jazz. E em "Segundo", Maria Rita repete até um tiro no escuro (Que não acerta em bom sítio, por sinal.) que já tinha dado no primeiro disco: cantar em castelhano. Em "Maria Rita", "Dos Gardenias" já soava a um intervalo para descansar, e o sotaque da cantora já deitava por terra a genuinidade da canção. Em "Segundo", a diferença é que o intervalo com "Mal Intento" chega uma faixa mais cedo.

Apesar deste aspecto, há que referir que o segundo álbum de Maria Rita não é mau, e, em certos aspectos, consegue até utrapassar o seu antecessor. A questão dos terrenos que a voz desta brasileira explora é agora abordada de uma forma mais realista, contentando-se a cantora com os registos adequados ao seu timbre. A sonoridade, de um modo geral, não regista muitas diferenças, o que não é bom, a não ser a nível do ritmo, que é aqui muito mais forte.

No fim, a ideia principal de "Segundo" é a oscilação. Somadas e/ou subtraídas todas as correcções, todas as aceitações, todas as mudanças, e todos os conceitos mantidos, o resultado tanto dá em canções muito boas, o caso da abertura com "Caminho das águas", "Ciranda do Mundo" e principalmente "Muito Pouco", como resulta em momentos indefinidos ("Despedida".) ou até mesmo momentos maus, como "Sem Aviso" ou "Feliz".

Em geral, "Segundo" parece, em certos momentos, ser melhor que "Maria Rita", mas, bem vistos todos os aspectos, esta colecção de canções, colocada ao lado da primeira que incluia pérolas como "A Festa", "Santa Chuva", "Pagu" ou "Agora Só Falta Você", pode no máximo igualá-la, mas ultrapassá-la... ultrpassá-la ainda não.

Juízo final: 14/20

sábado, 30 de dezembro de 2006

Running Up That Hill (A Deal With God)



(Kate Bush)
It doesn't hurt me
Do you want feel how it feels
Do you want to know, know that it doesn't hurt me
Do you want to hear 'bout the deal that I'm makin
You, you and me...
And if I only could make a deal with God
And get him to swap our places
Be running up that road
Be running up that hill
Be running up that building
If I only could oh...
You don't want to hurt me
But see how deep the bullet lies
Unaware I'm tearing you asunder
Ooh there is thunder in our hearts
Is there so much hate for the ones we love
Tell me we both matter don't we
You
You and me
You and me won't be unhappy
And if I only could make a deal with God
And I'd get him to swap our places
Be running up that road
Be running up that hill
Be running up that building
If I only could oh...
You
You and me
You and me won't be unhappy
C'mon baby c'mon darlin'
Let me steal this moment for you now
Come on angel, c'mon, c'mon darling
Let's exchange the experience oh,
And if I only could make a deal with God
And I'd get him to swap our places
Be running up that road
Be running up that hill
With no problems.
If I only could
Be running up that hill

Massive Attack: Collected

COLECÇÃO DE ATAQUES MASSIVOS



Tenho que falar de um disco que me ofereceram no Natal, e que, por acaso, eu já devia ter adquirido há muito tempo, ou não fosse uma colectânea do melhor de uma das minhas bandas de eleição e numa edição excelente. Falo de "Collected" dos Massive Attack, ou dos senhores Robert Del Naja (3D), Grant Marshall (Daddy G) e Andrew Vowles (Mushroom).
A edição especial contém, além do disco do best of, um outro dual side, que é um DVD com a videografia completa do trio que depois ficou duo, e um CD com inéditos, raridades e temas de OSTs.

Aparentemente, seria incoerente juntar canções do longínquo "Blue Lines" (1990) com "100th Window" (2003), mas, a verdade é que até nem soa mal. Bem pelo contrário. Traça-se uma evolução jeitosa, e temas antigos como "Safe From Harm" ou "Unfinished Sympathy" não ficam mal perante outras como "Butterfly Caught" ou "Special Cases". Pelo meio há "Protection" (1994) e "Mezannine" (1998).
O álbum cobre quase todos os vocalistas que já trabalharam com a banda: Shara Nelson (Que entretanto segue uma carreira a solo.), Horace Andy (Emblemático músico da Jamaica, tocou no Porto há pouco tempo.), Tricky (Colaborou com Björk em "Post".), Liz Fraser (Cocteau Twins.), Tracey Thorn (Anything But The Girl.), Nicolette (Nigeriana/ Escocesa, tem uma carreira a solo no acid jazz.), Terry Callier (Guitarrista de Jazz e Funk.), Sinead O´Connor (Quem não a ouviu em "Nothing Compares 2 U"?) e Mos Def (Rapper com pouca projecção em Portugal, ainda assim.), além de outras vozes que participam aqui por outras razões, o caso de Madonna em "I Want You", e de Damon Albarn (Blur, Gorillaz.) em "Small Time Shotin Em Up". Fica de fora Sara Jay, a minha preferida em "Dissolved Girl" e isso é pena.
Quanto aos vídeos, encontramos aqui Dani Levi, Michael Gondy, Wiz... mas uma colecção muito equilibrada, e cuja evolução acompanha a evolução da música.
Ainda apesar de tudo isto, "Collected" prima por mostrar as várias vertentes e contaminações da música dos Massive Attack, desde o soul de "Live With Me", "Safe From Harm" ou "Unfinished Sympathy", até ao hip hop em "Karmacoma" ou "Daydreaming" (Só presente em vídeo.), á electronica de "Butterfly Caught" ou "Inertia Creeps", ás influências orientais de "Sly" com Nicolette á voz, até sons mais melodiosos, como em "Protection" ou "Teardrop" a outros mais agressivos como em "Five Man Army" ou "Future Proof".


Shara Nelson
Horace Andy
Tricky
Tracey Thorn
Elisabeth Fraser
Sara Jay
Sinead O´Connor
Terry Callier
Damon Albarn

domingo, 24 de dezembro de 2006

Royksöpp: The Understanding

A MELANCOLIA TAMBÉM SE DANÇA
Tem muito mais de um ano a primeira edição de "The Understanding", segundo´álbum de originais do duo norueguês Royksöpp, e o que quer isso dizer? Absolutamente nada, exacto.
"Melody AM", o filho promogénito de Svein Berge e Torbjorn Brundtland, era feito com ritmos suaves mas fortes, e com melodias tristes, essencialmente. Desde então até "The Understanding", os tirmos é que se tornaram menos suaves, e a melancolia acentuou-se.
"Only This Moment" ou "Follow My Ruin" são, de facto, as provas de que a tristeza é dançável, e muito dançável. Obviamente que não é um disco perfeito para ouvir em casa, mas, num bar, num café... algures fora de casa, a história é outra.
O início engana quem ouve: o piano acústico dá o mote em "Triumphant", os sintetizadores engrandecem a coisa, mas em "Only This Moment", tudo muda de figura, o registo é agitado, electonico, faz lembrar os bares do underground de que eu tanto gosto. "49%" é o pior momento do álbum, mas é logo compensado por "Sombre Detune" e a música mantém-se oscilando entre o bom e o medíocre até fechar com "Tristesse Globale", um talvez regresso a "Triumphant". Não é um disco de que se goste á primeira. Á primeira audição, gostei apenas de "Triumphant" e "Only This Moment". Mas, á medida que se ouve, coisas como "Circuit Breaker", "Alpha Male" ou "Someone Like Me" vão ganhando consistência... 
O que correu mal? Acima de tudo, que muitas das canções resultem bem enquanto peças individuais, mas mal enquanto partes de um disco. Faltam conceitos comuns, cada canção é distante da outra. A voz também tinha uma exploração mais abrangente e variada em "Melody AM"... Em conclusão: canções muito boas, canções muito más, álbum muito disperso...


sábado, 23 de dezembro de 2006

All The Good Things


by Nelly Furtado

Honestly
what will become of me
don't like reality
It's way too clear to me
But really life is daily
We are what we don't see
Missed everything daydreaming

Flames to dust
Lovers to friends
Why do all good things come to an end
Flames to dust
Lovers to friends
Why do all good things come to an endcome

Travelling I
only stop at exits
Wondering if I'll stay
Young and restless
Living this way ~
I stress less
I want to pull away when the dream dies
The pain sets in and I don't cry
I only feel gravity and I wonder why

Well the dogs were whistling a new tune
Barking at the new moon
Hoping it would come soon so that they could
Dogs were whistling a new tune
Barking at the new moon
Hoping it would come soon so that they could
Die die die die die

De chamas a cinzas, de amantes a amigos, porquê que todas as coisas boas acabam? Adorava poder acrescentar alguma coisa a isto, mas a verdade é que a menina Nelly Furtado diz tudo. A minha pergunta é mesmo essa: why do all the good things come to an end? Eu espero que nem sempre seja bem assim...


fotografia tirada pelo je, em frente ao CCB, Lisboa, a 3 de Fevereiro de 2006

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

Minha Alma de Amor Sedenta, Sequiosa

por António dos Santos



Minha alma de amor sedenta, sequiosa
Barco sem rumo e sem Deus, fora do mundo
Anda á mercê da tormenta, tenebrosa
Desse mar dos teus olhos, negro e profundo

Essa dádiva total e quase louca
Que me pedes hora a hora, a cada instante
É o que a minha alma de dá, sem nada em troca
Quando de amor por ti chora, soluçante

Se eu um dia te perder, na tua vida
Jurarei virado aos céus, ao sol e á lua
Os perdoes que Deus me der, arrependido
Meu amor, são todos teus como eu sou teu

É uma causa perdida, pois não deve
O ser proibido amar e desejar
Quem perde um amor na vida, que é tão breve
Jamais deveria cantar e até sonhar...

fotografia de Gabriele Basilico

Disse-te Adeus Á Partida, O Mar Acaba A Teu Lado



Disse-te adeus á partida
Digo-te adeus á chegada
Se quero tudo da vida
Já de ti não quero nada

Disse-te adeus e depois
Fiquei no mesmo lugar
O leito de nós os dois
Só tem raízes no mar

Dizer adeus é diferente
Quando te digo baixinho
No meio de tanta gente
É que me sinto sozinho

Com uma gaivota na voz
Disse-te adeus e parti
Se esta cama somos nós
Não hei-de morrer sem ti...


António Lobo Antunes
Fotografia de Jorge Molder

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

As Minhas Queixas

Caro Pai Natal:

Chegando o Natal, é tempo de fazer uma retrospectiva. Para merecer os meus presentes de Natal, posso não ter feito muito, mas aconteceram-me coisas muito desagradáveis este ano, que bem me fazem merecer as All Stars e o pack das Donas de Casa Desesperadas.

1.º- A atruibuição do Nobel da Literatura a Orhan Pamuk. Tinha que começar por aqui. Há anos que ando a dizer que depois do Saramago, o António Lobo Antunes já deveria ter ganho o Nobel. Isto está a tornar-se pessoal, a academia sueca está a fazer isto para me irritar. Estou farto disto.


2.º- Não fui á exposição da Frida Kahlo ao CCB. Problemas de agenda, problemas de agenda, e quem ficou a ver navios em vez de ver "A Coluna Partida" ou "Auto Retrato com Macaco" fui eu. Aliás, a ver barcos rabelos, porque no Douro nem há navios.


3.º- O final da série "Senhora Presidente" sem a promessa de uma segunda temporada. Privem-me de quase tudo, mas não da Geena Davis a interpretar MacKenzie Allen, senhora da Casa Branca, e Donald Sutherland como Presidente da Câmara de Representantes, ou simplesmente Nathan Templeton.

4.º- Mais uma vez, esqueci-me de metade dos aniversários dos meus amigos. Não faço por mal, mas tenho muita dificuldade em fixar datas, principalmente quando são datas tão parecidas no nome como Aniversário da Né, Aniversário do Fred, Aniversário da Nita, Aniversário do Diogo... enfim... é desgradável...

5.º- A minha irmã nem cresceu nem se tornou menos chata, e isto está na minha lista de prendas do Pai Natal há sabe Deus quantos anos...

6.º- Os Morangos com Açúcar continuam aí... apesar de eu tanto ter cortado na casaca do sr. José Eduardo Moniz...

7.º- Ainda não foi desta que provei Kibe Cru, que é um prato colombiano que eu ando curioso para experimentar.

8.º- O Justin Timberlake voltou aos discos com o FutureSex/LoveSounds, para mal dos meus pecados. Ouvi-lo cantar Rock Your Body era mau. Ouvi-lo em Let Me Talk To You My Love é pior...

9.º- Ainda não comprei uma casa no Algarve. É uma coisa de que ainda não desisti. Mas tinha sido tão bom, se tivesse sido este ano... principalmente no Halloween...,

10.º- Não foi desta que consegui gostar dos Sissor Sisters (As noites no Maus Hábitos não contam.) apesar de prometer a mim mesmo que vou conseuir descobir qual o motivo para que tão bem se diga deles.

11.º- Não consegui gostar de nenhuma música do novo álbum da Beyoncé Knowles, B Day, e eu acho que, depois de um ano de obsessão, na altura de Dangerously In Love, eu devia isso a mim mesmo.

12.º- Não descobri quem é o Tubarão. Andam praí ás voltas com o Bráulio, com a Raquel... e nada.

13.º- Não arranjei coragem para vestir uma T-Shirt cor-de-rosa...

14.º- Não consegui despir-me do veneno do sarcasmo nem um bocadinho...

15º- O Rui Rio entregou o Rivoli ao Felipe La Feria, e já lhes chamei todos os nomes...

Por tudo isto, querido Pai Natal, quero umas All Stars cinzentas e o pack dos DVDs da primeira temporada das Donas de Casa Desesperadas, e á meia-noite de 24, se faz favor. Um abraço, teu

SuperMassive Black Hole

O Meu Filme de Natal


Adoro cinema. Tive essa disciplina o ano passado, na Soares, no módulo de Comunicação Audiovisual, adoro ir ao cinema, vasculhar os DVDs nas lojas, e ver o Onda Curta, porque adoro curtas-metragens. Portanto, e lobo-antunianamente repetindo-me
Adoro cinema.
Mas, confesso que o ano passado desisti de ir ao cinema no Natal. Passo a explicar. Fui ao cinema com alguns colegas, a Guimarães. Como foi? Nada bom. O único que ainda nenhum de nós tinha visto era um de desenhos animados, que não posso garantir que não fosse o Lillo & Stitch 2. Estava cheio de famílias felizes com os filhinhos sorridentes, segurando com esse sorriso um colossal balde de pipocas. Sentámo-nos numa das filas do meio, e eu fiquei na ponta. Pus-me a pensar na minha vida, já que os filmes de desenhos animados raramente me agarram, e, a certa altura, estava a suspirar tanto que um rapazinho de seis anos me mandou calar. Um mimo. De uma forma ou de outra, passei o resto do dia em baixo, suponho que precisava de alguém que me dissesse que tudo ia ficar bem. Enfim, coisas natalícias.
Portanto, agora, não vou ao cinema, do meio de Dezembro até ao meio de Janeiro. Fugi.
Agora, limito-me a ver o meu filme de Natal, que é The Nightmare Before Christmas- O Estranho Mundo de Jack, do Tim Burton (Um dos meus definitivamente preferidos.) porque tenho uma edição especial em DVD, logo posso ver em casa dos meus pais, ou no meu PC, no primeiro caso, na sala, debaixo de um cobertor que detesto ficar constipado, e não me ponho a pensar na minha vida, uma vez que este filme me prende, apesar de já o ter visto um número de vezes nunca inferior a 584865497508435646752364162537804945859069, e, mesmo que pusesse, como o vejo sozinho, não haveria criancinha de seis anos que me mandasse calar. Pode ser que um dia ganhe coragem de voltar ao cinema na altura do Natal, não sei. Espero que sim. Por enquanto, não consigo ir. Se fosse, faria o máximo dos máximos por não ficar numa da pontas, porque, ao menos entre os meus amigos, estaria protegido, protegido como acabo de ouvir que a Carolina Salgado vai passar a andar, uma vez que corre perigo, derivado ás graves acusações que faz em "Eu, Carolina"... próxima candidata ao Nobel de Portugal. Isto era um parêntesis. O que eu queria mesmo era perceber porque não vou ao cinema nesta altura. Acho que descobri...

domingo, 17 de dezembro de 2006

post blue


(brian molko; stefan olsdal; steve hewitt)

it´s in the water baby
it´s in the pills that bring you down
it´s in the water baby
it´s in your bag of golden brown
it´s in the water baby
it´s in your frequency
it´s in the water baby
it´s between you and me

it´s in the water baby
it´s in the pills that pick you up
it´s in the water baby
it´s in the special way we fuck
it´s in the water baby
it´s in your family tree
it´s in the water baby
it´s between you and me

bite the hand that feeds
tap the vein that bleeds
down on my bended knees
i break the back of love for you

O Quereres


Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alta, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão

Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês

Ah! bruta flor do querer
Ah! bruta flor, bruta flor...

Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói

Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és

Ah! bruta flor do querer
Ah! bruta flor, bruta flor...

Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock’n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim
Do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há e do que não há em mim

Caetano Veloso



Imagem: "Máquina Assassina" de Kurt Schwitters

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Será Bráulio o Tubarão?


Ontem á noite fui bombardeado com 4 sms que continham basicamente o mesmo texto:
"Será Baúlio... o Tubarão?"
Pois é, a vida tem destas coisas, e as novelas também.
Depois de "Quem matou o António?", Rui Vilhena deixa todos curiosos com "Quem é o Tubarão?" Depois de um episódio em que Mónica telefona ao Tubarão e 499 telemóveis tocam, temos outros tantos suspeitos: Beatriz, Filipe, Braúlio, Célia, Fernando, Bárbara, Raquel, Bernardo, Afonso, Lídia, Fátima, Maria Laurinda... e por aí adiante... mas por alguma razão as pessoas decidiram implicar com o Bráulio. O problema é que isto já se tornou uma questão social. Mais que o aumento da idede da reforma, mais que as aulas de substituição, mais que o pagamento dos internamentos, os portugueses estão preocupados com a identidade do Tubarão. Pensem... o Tubarão esteve no Oceanário (Deduzo que lá fosse um entre muitos.), esteve no lançamento da nova colecção da Martins de Mello, mandou um colar a Mónica para ela utilizar nas comemorações do dia do Fim de Fausto.
É uma capacidade brilhante do senhor Rui Vilhena, sempre que escreve uma novela, agarra mais que as idades das reformas e etc... acho que o povo português nunca mais foi o mesmo depois de descobrir que quem matou o António foi a Guida! E agora querem saber se o Bráulio é o Tuba...
Não sei... sigo vagamente a novela, principalmente ás Sextas Feiras, porque durante a semana, eu e os meus roomates acabamos por n0s esquecer, entrte a programação do AXN ou do Hollywood, mas a minha aposta vai para a Beatriz... só porque tem charme.

domingo, 10 de dezembro de 2006

Vem aí o Vento

Tomo sempre café com a Catarina C na Fnac de Santa Catarina ás Quartas Feiras, e passo pela mesma rua várias vezes. E ultimamente, tenho-me demorado um pouco a reparar nas iluminações de Natal. Não são bonitas mas são tão bonitas. É muito estranho. A rua toda iluminada é bonita, ainda que as iluminações sejam fatelas. Enfim, e tudo isto porque é Natal. Ainda no outro dia vinha a subir a rua, após a terceira dos The Gift e vinha a cantar
"_É Natal, é Natal
Tudo bate o pé..."
ou seja, eu e o Natal adoramo-nos. Palavra que gosto daquela época que os católicos gostam de chamar de advento (Não, não sou católico, nem gosto do termo "advento", parece que vem aí o vento... não acho que seja esse o objectivo.), gosto das pessoas que parecem bem-dispostas (E algumas só estão bem-dispostas no Natal.), gosto das montras das lojas cada uma mais possidónia que a anterior, das cançõezinhas que enchem as ruas com a sua sonoridade previsível... enfim, até acho que tem o seu quê de lógico a televisãoi fazer galas e tal... mas se há coisa que eu não entendo é mesmo as galas do Natal dos hospitais. Sim, acho muito bem que façam isso, mas não era preciso estarem a passar isso na TV, e ainda por cima a tarde toda. Quer dizer, não chegam as rádios locais, como agora, uns dias antes do Natal temos que levar com o Tony Carreira, a Ágata, a Romana, o Emanuel, os D´ZRT ou os 4Taste... deve ser para os doentes fugirem e deixarem os hospitais vagos, é que só pode. Mas não sei o método é eficaz, porque qualquer pessoa com o mínimo de bom-gosto vê cinco minutos daquilo na televisão, e começa a vomitar, e corre para o médico. Má ideia.
Mas avance-se a parte má da época natalícia, e saltemos para as compras de Natal, que eu gosto muito delas. Gosto mais que se compre para mim, mas, que remédio, também tenho que comprar para os outros. Felizmente, para mim e para os que me rodeiam, nunca achei que a história do Pai Natal estivesse bem contada. Não conseguia conceber que um velho gordo coubesse na chaminé da casa da minha avó, na casa da qual passo sempre a consoada. Pior ainda, nunca consegui perceber como é que ele entrava lá em casa, se a casa dos meus pais é um apartamento, e nem chaminé tem. Mais... como é que ele não morre? Como é que ele consegue estar á meia-noite nas casas todas? Como é que ele consegue estar nos centros comerciais todos ao mesmo tempo? Onde é que ele vai arranjar dinheiro para as prendas de toda a gente? Realmente, essa história não tem pés nem cabeça. No entanto, um belo Natal, tinha eu aí uns cinco anos, a minha mãe decidiu por cobro a essa treta toda do Pai Natal. Estávamos no Centro Comercial, e ela, em jeito de brincadeira, pergunta-me o que é que eu quero. Eu digo um número de coisa entrer vinte e trezentos e quarenta e um. A minha mãe tenta com calma explicar-me que não posso ter tantos presentes. Eu insisto. Afinal de contas, é um velhinho que me vai dar as prendas, que tem ela a ver com isso. Ela agarra-me num braço, para evitar que eu fizesse um escãndalo e leva-me a um canto
"_Quem te dá as prendas somos eu e o teu pai, o Pai Natal não existe, por isso, vais escolher menos coisas, estamos entendidos."
e posso dizer que o Mundo não me caíu aos pés. Foi como quando os The Gift ganharam o prémio da MTV (Este ano mais uma vez bem entregue, aos Moonspell.), eu ainda não sabia que eles tinham ganho, mas no fundo, sabia que só podia ser isso. Pronto, com o Pai Natal foi o mesmo. Eu ainda não sabia que ele não existia, mas no fundo, tinha plena consciência que ele nunca poderia existir. Não fiquei traumatizado, só um pouco chateado por ter que escolher menos tralha.
Portanto, hoje em dia, em vez que andar a ver os intervalos dos programas e escolher entre os 777 Action Man´s e 50000000000 carros telecomandados, limito-me a dar uma voltinha pelo Porto e decido-me por umas All Stars (Mais umas, desta feita, cinzentas.) e o pack das Donas de Casa Desesperadas, talvez mais um ou dois CDs se os meus tios que quiserem dar alguma coisa. E acho que não se deviam contar essas histórias aos putos. Depois por isso é que eles ficam habituados a ter tudo. Acham que é um homem que cai das chaminé que lhes dá. Ou seja, tudo isto, porque faltam poucas semanas para o Natal e eu já me sinto um pouco mais calminho dentro das minhas psicoses. Quando elas voltarem, talvez deva pedir ao Pai Natal uma Barbie, porque ela faz tantas coisas, que entre elas, há-de ser psiquiatra...

sábado, 9 de dezembro de 2006

A Toada dos Aguaceiros

Caem aguaceiros
deste céu pesado
Que são mensageiros
dum vento salgado
VIVIANE, "Toada dos Aguceiros" (José Medeiros)
Não me entristece a chuva a bater nas vidraças das janelas. Não me apoquenta o meu nariz vermelho vivo a ameaçar caír tipo Michael Jackson. Não me chateia ter que usar muita roupa para andar na rua. Não tenho medo da trovoada quando ela cai. Não me preocupa a tosse constante. Até gosto de ficar de manhã meio acordado meio a dormir a ouvir o barulho da chuva contra os vidros (Principalmente se os estores taparem a luz e tiver o meu MP3 com a canção Come Away With Me da Norah Jones em repeat.). O nariz é uma parte da cara das pessoas em que raramente reparo (Só no caso de ser ESCANDALOSAMENTE invulgar.). Até gosto que esteja frio porque gosto muito de casacos e é da maneira que já os posso usar. E adoro trovoada. A tosse é como o vento, vem e vai. Agora o que eu não suporto é andar na rua quando chove. E não é porque não goste da rua quando chove. O que me leva á completa loucura são as pessoas. A sério. São tão enervantes. Apetece-me utilizar as técnicas da tortura medieval que se usavam na Inquisição naquelas pessoas irritantes que, não lhes chega ter quarda-chuva como sempre que passam debaixo de um toldo ou de um coberto de uma loja têm que passar lá por baixo. Quer dizer, eles não podem andar á chuva e o guarda-chuva também não? Que merda é essa? Eu devo referir que nunca possuí um guarda chuva por mais do que um dia, pelo que a maior parte das vezes, ando na rua com o capuz do meu casaco, e a meter-me debaixo dos toldos e cobertos das lojas. Isto quando posso. Porque graças a esses anormais, por vezes, eles, com guarda chuva, ficam debaixo dos toldos e eu mantenho-me á chuva. Ainda por cima há aqueles que levam isto ao cúmulo de se deixarem a conversar uns com os outros debiaxo dos toldos, e com guarda-chuvas. Nem passam, nem deixam passar. O garrote era um instrumento da Inquisição. Consistia num cinto com um parafuso na parte interior que era apertado um volta do pescoço das vítimas, até que asfixiassem. Eu que tivesse um...
Aquelas pessoas que passam de carro em passadeiras sem semáforo e, apesar de verem pessoas ali, especadas, debaixo da chuva a quererem atravessar, não têm a gentileza de parar. Para esses reservava um método que consistia em pendurar as pessoas ao tecto pelos pés e serrás-las a partir do meio das pernas. Estando atadas de pernas para o ar, não desmaiavam e por vezes só morriam quando já estavam serradas pelo peito. Era o que esta gente merecia... Está ali um gajo á chuva e de pé, e eles, recolhidos e sentados, não podem parar, que estão com pressa... que crueldade.
Os transportes públicos, que mais do que nunca ficam cheios. As pessoas já os usam para irem do mercado do Bolhão á Trindade (Quem é do Porto sabe que a distância é mínima.), mas, com a chuva, ficam ainda mais preguiçosas e metem-se dentro dos autocarros e do metro que é uma coisa desgraçada. Por sorte, vivendo na Baixa, estou perto da minha escola, de quase todas as lojas que posso precisar... o problema é quando preciso de ir a casa da Catarina M, que vive em Francos, e tenho que ir de Metro, ou pior, quando tenho que ir a Serralves e, como nem Metro há, tenho que ir de autocarro. Há umas semanas fui lá, e, no caminho de regresso á Baixa, vinha a dar letra com a Nita e, ás tantas, no seio de uma brincadeira, eu pus a mão na perna dela. Ok. Má ideia. Uma senhora de cerca de oitenta anos desata a desfiar o terço e nós que a ouvíssemos.
Outra coisa. A cidade fica, em geral, sem esplanadas. E isso é do pior. Espero um dia vir a ser escritor, e, se há sítio onde gosto de escrever é num café, e, se fôr numa esplanada, tanto melhor. Com a chuva, lá se vão elas, e, que remédio, escrevo no interior dos cafés, ou em casa.
Também detesto ter que andar a saltitar nos passeios porque estão cheios de poças de água. Educação Física não é o meu forte, e saltar não é um hobbie.
Tenho, por agora, a ideia do forte romantismo na chuva. Isso não passe.