quinta-feira, 6 de julho de 2006

O Espírito



(Natália Correia)


Nada a fazer amor, eu sou do bando
Impermanente das aves friorentas;
E nos galhos dos anos desbotando
Já as folhas me ofuscam macilentas




E vou com as andorinhas. Até quando?
À vida breve não perguntes: cruentas
Rugas me humilham. Não mais em estilo brando
Ave estroina serei em mãos sedentas.




Pensa-me eterna que o eterno gera
Quem na amada o conjura. Além, mais alto,
Em ileso beiral, aí espera




Andorinha indene ao sobressalto
Do tempo, núncia de perene primavera.
Confia. Eu sou romântica. Não falto.





Imagem: "O Baloiço"1767, de Jean Honoré Frangonard

Natália Correia nasceu em 1923 em Fajã de Baixo, nos Açores. Inserida no contexto do surrealismo, Natália está entre os mais assinaláveis autores da literatura contemporânea, tendo escrito poesia, romances, ensaios, apontamentos políticos, teatro, crónicas, tendo sido também tradutora, editora e jornalista. Morreu em 1993, legando á literatura algumas das mais brilahntes obras que esta já conheceu.

Jean Honoré Fragonard nasceu em Grasse em 1732, estudou brevemente em Itália, e, regressado a França, tornou-se num dos mais emblemáticos pintores do rococó. A obra "O Baloiço" é uma das mais importnates não só do seu trabalho como de toda a pintura rococó.

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